Em 1512 foram contadas 79 marinhas, com um
total de 11 052 talhos, situadas tanto na ribeira da foz do Sabonha, como na
ribeira de Aldeia Galega (Montijo) e que eram “foreiras ou davam o dizimo, à
Ordem de Santiago”
O salgado foi-se desenvolvendo ao
longo dos séculos, sujeito às contingências do meio, tais como o solo, o clima
a maior ou menor proximidade dos esteiros relativamente ao mar, que de certa
forma determinaram técnicas e processo de exploração. Os recursos económicos e
humanos existentes, marcaram também desenvolvimento da indústria salineira.
Assim, nos finai do séc. XVIII e
inicio do séc. XIX continua a surgir documentação relativa às salinas de Alcochete,
tais como contratos de arrendamento, aforamentos, ou ainda relatórios das
salinas onde são apresentados os proprietários ou arrendatários e a quantidade
de sal que produzia. Estas referências provam que a exploração da salicultura,
nesta região, foi-se desenvolvendo lentamente ao longo dos séculos anteriores,
atingindo a sua maturidade nos finais do séc. XVIII, altura em que ganha
projecção na região de Lisboa e a nível nacional.
Nos finai do séc. XVIII, os trabalhos
realizados por Lacerda Lobo, sobre o salgado português constituem também uma
referência fundamental para conhecer estado de desenvolvimento da Indústria
salineira em Alcochete, o tipo de solo das marinhas, os processos utilizados e
a localização das marinhas. Aliás o autor, refere-se de forma indirecta à
exploração salícola de Alcochete, a propósito
da construção das marinhas de Alvor e Vila nova de Portimão, no Algarve.
Mandadas construir pelo infante D. Francisco em 1720, sob a responsabilidade do
Mestre de marinhas, João Marques Ratinho, natural de Alcochete.
Posteriormente sucederam-lhe os
filhos: Francisco Marques; Lourenço Marques e Manuel Marques, sendo ainda em
1790 o mestre das referidas marinhas um dos filhos.
O mestre Ratinho responsável pela
criação desta marinhas levou para esta região, a sua experiência e conhecimentos
sobre o amanho das marinhas e feitura do sal. Daí que, como o próprio autor
refere, “ São estas Marinhas enquanto à ordem dos reservatórios, e manipulação
do sal, em tudo semelhantes às de Alcochete.”
Esta referência prova que no
início do séc. XVIII, a indústria salineira estaria bem enraizada em Alcochete.
Assim, daqui saíam os “mestres” para ensinar a “arte” de amanhar as marinhas e
os processos subjacentes à feitura do sal, nas regiões do país onde a indústria
salineira era ainda incipiente. Por outro lado, poder-se-á também colocar a
hipótese do mestre Ratinho e a família terem ido para a região do Algarve, pelo
facto das marinhas de Alcochete, nesta altura, serem pouco rentáveis devido à
baixa produtividade; facto que obrigou este produtor a investir noutras regiões
onde as condições eram mais favoráveis à exploração salícola.
Relativamente ao século XIX,
alguma documentação existente no arquivo distrital de Setúbal, permite esclarecer
algumas questões sobre o salgado de Alcochete, nomeadamente quanto ao número de
salinas, sua localização e respectivos proprietários, assim como quem eram os
arrendatários. Porém, é escassa,
atendendo à importância que este salgado já em finais do séc. XVIII e
especialmente no séc. XIX tinha na margem sul do Tejo. Muita documentação ou se
perdeu ou estará por inventariar e dispersa em arquivos Municipais, ou outras
instituições e famílias proprietárias ou arrendatárias de salinas.
Foi possível colmatar, em parte,
esta lacuna para os finais do séc. XVIII, recorrendo-se a uma obra bastante
importante para a história económica e social de Alcochete, que é a obra de
Jacome Ratton, Recordações de Jacome Ratton…, escrita entre 1747 e 1810. Nela
observa-se o estado de desenvolvimento de Alcochete, quer ao nível da
agricultura, quer da salicultura, a ocupação do espaço em termos de população,
as zonas cultivadas e incultas bem como a situação económica das populações que
aqui habitavam. É, por isso, uma referência para Alcochete, na qual se
encontram descritos espaços e situações, bem como todas as obras levadas a cabo
por este empreendedor em vários locais. Tais foram os trabalhos de modernização
implementados, nomeadamente na Barroca D`Alva que o rei D. José se lhe dirigiu
nestes termos “ este é o nosso Ratton o grande cultivador da barroca d`Alva”
O único rendimento da Barroca d´Alva, na
altura em que Jacome Ratton a tomou de arrendamento decorria o ano de 1767, era
uma marinha que se situava afastada do Tejo. Esta era uma marinha pequena e que
se encontrava em mau estado de conservação, estando arrendada por 192.000 reis, “único rendimento de toda a barroca d`Alva
para seu dono, e que se achavam hipotecados ao pagamento de uma divida, que
sucessivamente ia crescendo pela acumulação dos juros, por estes excederem
muito a dita quantia; divida que eu resgatei antes de me apossar da marinha
para bemfeitorizar ao ponto de render dois mil mois de sal claro, um ano por
outro, quando antes não passava de duzentos, e muito escuro, em razão dos
muitos nascimentos de água doce, que ali havia; e que à força de pensar, e de dinheiro
fiz desaparecer, cuja descoberta até então desconhecida tem sido depois
aproveitada nas outras marinhas daqueles contornos. E como esta marinha é a
mais distante de todas aquelas que recebem do Tejo a água das marés pelo rio
das Enguias; e por isso neste sitio a sua água menos salgada em razão da doce
que se lhe mistura; e observando eu ao mesmo tempo, que nos praimares das águas
vivas, a doce, por mais leve se achava ao decima do salgada, construí o registo
da entrada das águas nos viveiros, de modo que abrindo-se pouco antes das
praiasmar, e fechando-se pouco mais de uma hora depois, me entrasse somente
água salgada na marinha, ao que se deve, junto com as dispendiosas bemfeitorias
que lhe fiz, a melhoria, e maior produção de sal”
Fonte: Maria
Dulce de Oliveira Marques – Dissertação de Mestrado –“O Salgado de Alcochete”
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