"(...)António Sérgio acentuou a importância da salicultura na economia portuguesa desde o tempo da romanização e durante os primeiros séculos da nacionalidade e Virgínia Rau publicou vários estudos sobre a história do sal português. Luís Cadamosto, navegador e comerciante veneziano, do século XV, ao serviço de Portugal, descreveu como se trocava o sal por ouro entre os nativos nas costas da Guiné. No século XVI há notícias de terem chegado ao Tejo e ao Sado mais de 250 barcos, sobretudo alemães e holandeses, em apenas seis dias, para carregarem sal.
Chamou-se Sal de Santa Maria a um imposto pago pelos proprietários da barcos. D. Sebastião decretou o monopólio da exploração salina para custear a malograda expedição de 1587. Os pescadores do Norte da Europa, onde o clima é desfavorável e a salinidade do mar é fraca (7,2 g/l, no Báltico), abasteciam-se aqui de sal a caminho da pesca do bacalhau na Terra Nova. Restaurado Portugal em 1640, a dívida aos estados que nos ajudaram a expulsar o domínio espanhol foi paga com sal, então considerado o melhor de toda a Europa. Nessa época punia-se com a pena de morte todo o marnoto nacional que ousasse ensinar aos galegos, nossos concorrentes, a arte das salinas.
As nossas salinas proliferaram nas embocaduras dos principais rios, do Lima ao Guadiana (Castro Marim), sendo actualmente ainda importantes as de Aveiro (iniciadas no século X), da Figueira da Foz, do Tejo (em Alcochete), de Setúbal e da Ria Formosa, esta última responsável por 50% da produção nacional de sal, considerado de óptima qualidade. A importância do sal está bem testemunhada no Museu do Sal, em Alcochete, uma lição sobre a salicultura portuguesa e a vida dos salineiros ou marnotos.
Em termos ambientais, o abandono da actividade salineira e a destruição das salinas está a pôr em risco a sobrevivência de muitas aves migratórias que aí fazem escala. Na construção da Ponte Vasco da Gama, no Tejo, a preservação das antigas salinas do Samouco fez-se pela expropriação e recuperação desta área, com vista à preservação da importante fauna que alberga, tendo sido criada, em 28 / 22 / 2000, a “Fundação para a Gestão do Ambiente das Salinas do Samouco”.
No nosso dia-a-dia e na tradição de um saber antigo, salga-se o bacalhau e temperam-se com sal as azeitonas, os queijos e os enchidos. Salsicha e salpicão são, como o nome indica, enchidos temperados com sal. Ainda se prepara, com muito sal, a massa de pimentão, no Alentejo; está-se a perder o atum em salmoura e quase já se perdeu a sardinha de barrica, a carne e o toucinho da salgadeira e os queijinhos guardados no sal. Lá fora, salga-se o arenque, prepara-se a choucroute e conservam-se o caviar e os ovos de galinha (na China), que assim podem durar anos.(...)"
O sal pertence à nossa história e lendo a antiga trova que o Prof. Galopim de Carvalho colocou no meio da sua conferência, não consigo deixar de pensar quem tanto lutou no meio dos talhões para dar comida aos seus filhos.
“Ó ondas do mar salgado,
donde vos vem tanto sal?
Vem das lágrimas choradas
nas praias de Portugal.”
Transcrito de : A. M. Galopim de Carvalho, Museu Nacional de História Natural ,Conferência pronunciada na abertura da Feira dos Minerais, Gemas e Fósseis, de 2003
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