Edifício emblemático da frente ribeirinha de Alcochete, a Capela de Nossa Senhora da Vida destaca-se pela sua localização geográfica, praticamente em cunha sobre o rio Tejo, formando um dos vértices da vila.
A sua importância, porém, é também histórica, na medida em que está associada ao Hospital da Misericórdia local, uma das mais importantes instituições alcochetanas ao longo da época moderna.Em 1553, como refere um visitador da Ordem de Santiago, esse hospital já existia e possuía uma pequena capela, "de alvenaria, com um altar também de alvenaria, e sobre ele havia um retábulo de papel grudado em tábua, com um crucifixo e outras imagens de papel. O Espírito Santo estava pintado com os Apóstolos" (ESTEVAM, 1956, p.93).
Tendo em conta que a Misericórdia da Vila foi instituída pelos meados do século, e que o seu templo principal estaria concluído por volta de 1563, tudo indica que o Hospital tenha sido uma das primeiras obras da Irmandade, dando assim pleno sentido à sua própria existência de assistência aos mais necessitados.
O templo que hoje vemos não corresponde àquela descrição do visitador, nem é seguro que se tenha edificado no mesmo local. Com efeito, pouco tempo depois daquela visita, por volta de 1577, D. Afonso Garcia de Figueiredo e sua mulher, Júlia de Carvalho, determinaram a construção deste monumento, dedicado ao Espírito Santo, tendo-se feito sepultar nele, em campa rasa diante do altar-mor. Estamos ainda muito mal informados acerca destes dois nobres, bem como das motivações que presidiram à sua vontade. Em todo o caso, a construção deste pequeno templo não pode dissociar-se das obras que a Misericórdia alcochetana então fomentava.De acordo com algumas informações que necessitam ainda de uma confirmação documental, o arquitecto da obra terá sido o mesmo que esteve envolvido na edificação do templo da Misericórdia, o enigmático Fernão Fidalgo. Os paralelos entre as duas obras foram recentemente colocados em evidência por Vítor Serrão, que realçou a semelhança das naves quadradas, a utilização de cúpulas semi-esféricas nas respectivas capelas-mores, o recurso a "portadas rusticadas de tradição clássica", com aduelas rectangulares de desenvolvido almofadado, e a presença de capitéis de tradição jónica (SERRÃO, 2002, p.216). Por esta breve caracterização, há que forçosamente colocar este templo numa tipologia tardo-renascentista erudita, que tem os seus mais directos antecedentes nas soluções italianizantes que melhor singularizam a nossa produção arquitectónica quinhentista. De planta longitudinal composta por nave rectangular e capela-mor quadrangular, o interior exibe algumas obras rococó de relevância regional. Todo o espaço é percorrido por um silhar de azulejos, datável da segunda metade do século XVIII. A zona central, figurativa, é envolvida por uma moldura polícroma, de contornos irregulares, e cujos elementos concheados adquirem uma expressão muito gráfica. As representações alusivas a episódios da vida de Nossa Senhora, conservam a tonalidade azul e branca, que marcou o período barroco, e são complementadas pelas cartelas superiores e inferiores. As primeiras exibem inscrições referentes à cena ilustrada, e as segundas associam aos temas representados alguns símbolos marianos das litanias, como a rosa sem espinhos, o sol e a lua, entre outros, que reforçam a ideia de pureza e ausência de pecado original. Os retábulos, polícromos e de desenho diferenciado, desenvolvem uma linguagem que denota a influência do neoclassicismo, mais evidente ao nível dos retábulos colaterais. O retábulo-mor, que ocupa a parede fundeira da capela-mor, apresenta tribuna flanqueada por duas colunas, e ático com aletas, coroado por frontão curvo. Num plano ligeiramente mais recuado, e ladeando a estrutura central, abrem-se duas portas, no primeiro registo, a que se sobrepõem os nichos, de remate recortado, que se eleva até ao nível do entablamento da tribuna.
Fotos - Vista area
Fonte: IPPAR
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