31 outubro 2006

O Sal - Parte 2

"(...)António Sérgio acentuou a importância da salicultura na economia portuguesa desde o tempo da romanização e durante os primeiros séculos da nacionalidade e Virgínia Rau publicou vários estudos sobre a história do sal português. Luís Cadamosto, navegador e comerciante veneziano, do século XV, ao serviço de Portugal, descreveu como se trocava o sal por ouro entre os nativos nas costas da Guiné. No século XVI há notícias de terem chegado ao Tejo e ao Sado mais de 250 barcos, sobretudo alemães e holandeses, em apenas seis dias, para carregarem sal.

Chamou-se Sal de Santa Maria a um imposto pago pelos proprietários da barcos. D. Sebastião decretou o monopólio da exploração salina para custear a malograda expedição de 1587. Os pescadores do Norte da Europa, onde o clima é desfavorável e a salinidade do mar é fraca (7,2 g/l, no Báltico), abasteciam-se aqui de sal a caminho da pesca do bacalhau na Terra Nova. Restaurado Portugal em 1640, a dívida aos estados que nos ajudaram a expulsar o domínio espanhol foi paga com sal, então considerado o melhor de toda a Europa. Nessa época punia-se com a pena de morte todo o marnoto nacional que ousasse ensinar aos galegos, nossos concorrentes, a arte das salinas.

As nossas salinas proliferaram nas embocaduras dos principais rios, do Lima ao Guadiana (Castro Marim), sendo actualmente ainda importantes as de Aveiro (iniciadas no século X), da Figueira da Foz, do Tejo (em Alcochete), de Setúbal e da Ria Formosa, esta última responsável por 50% da produção nacional de sal, considerado de óptima qualidade. A importância do sal está bem testemunhada no Museu do Sal, em Alcochete, uma lição sobre a salicultura portuguesa e a vida dos salineiros ou marnotos.

Em termos ambientais, o abandono da actividade salineira e a destruição das salinas está a pôr em risco a sobrevivência de muitas aves migratórias que aí fazem escala. Na construção da Ponte Vasco da Gama, no Tejo, a preservação das antigas salinas do Samouco fez-se pela expropriação e recuperação desta área, com vista à preservação da importante fauna que alberga, tendo sido criada, em 28 / 22 / 2000, a “Fundação para a Gestão do Ambiente das Salinas do Samouco”.

No nosso dia-a-dia e na tradição de um saber antigo, salga-se o bacalhau e temperam-se com sal as azeitonas, os queijos e os enchidos. Salsicha e salpicão são, como o nome indica, enchidos temperados com sal. Ainda se prepara, com muito sal, a massa de pimentão, no Alentejo; está-se a perder o atum em salmoura e quase já se perdeu a sardinha de barrica, a carne e o toucinho da salgadeira e os queijinhos guardados no sal. Lá fora, salga-se o arenque, prepara-se a choucroute e conservam-se o caviar e os ovos de galinha (na China), que assim podem durar anos.(...)"

O sal pertence à nossa história e lendo a antiga trova que o Prof. Galopim de Carvalho colocou no meio da sua conferência, não consigo deixar de pensar quem tanto lutou no meio dos talhões para dar comida aos seus filhos.

“Ó ondas do mar salgado,
donde vos vem tanto sal?
Vem das lágrimas choradas
nas praias de Portugal.”

Transcrito de : A. M. Galopim de Carvalho, Museu Nacional de História Natural ,Conferência pronunciada na abertura da Feira dos Minerais, Gemas e Fósseis, de 2003

22 outubro 2006

Paço Real de Alcochete e Álvaro Velho

Antiga vila, cuja origem se perde nas brumas do passado, sobranceira ao rio Tejo, ao seu imenso estuário que quase se assemelha ao mar oceano, Alcochete foi desde sempre uma terra privilegiada em águas, ares e vastos horizontes por onde as suas gentes desde sempre espraiaram os seus sonhos, as suas vidas.

A 31 de Maio de 1469 nascia em Alcochete o rei D. Manuel I, posteriormente cognominado "o venturoso". Da ligação à vila que o viu nascer pouco se sabe, porém, cremos que a mesma não se tenha limitado a um nascimento ocasional, mas antes desse nascimento tivesse surgido uma ligação afectiva mais duradoura, atestada pelo Paço Real que existiu então, ou já existiria antes do nascimento do soberano. Devido à sua situação geográfica, privilegiada pelos arejados espaços da sua malha urbana, e pela relativa proximidade a Lisboa, capital do Império, Alcochete constituía, sem dúvida, uma vila de eleição para residência temporal da Corte, principalmente em períodos de peste, que periodicamente assolavam a capital.

Em 1498, Vasco da Gama chegava à Índia comandando uma frota composta por três navios: S. Gabriel, S. Rafael e Bérrio. A Álvaro Velho caberia a tarefa de escrever o roteiro da viajem, personagem a quem vários historiadores e alguns curiosos atribuem como terra de nascimento, o Barreiro.Este mesmo Álvaro Velho a determinada altura no seu roteiro refere: «Esta vila de Melinde (…) está assentada ao longo de uma praia, a qual vila se quer parecer com Alcochete, e as casa são altas e mui bem caiadas e tem muitas janelas» (1).

Se, tal como é referido por vários historiadores, Álvaro Velho era natural do Barreiro, lógico seria que conhecesse bem Alcochete, pela sua proximidade geográfica à primeira das povoações. Porém, mais lógico será a analogia que o autor refere no seu roteiro caso frequentasse amiudadamente a Corte em Alcochete, dado ser um homem de confiança do rei D. Manuel I e por esse facto querer distinguir o soberano, comparando Melinde a Alcochete.

Num maço de documentos descoberto há pouco pelo autor no Arquivo Distrital de Évora, encontram-se transcritas uma série de cartas datadas de 1508 a 1513, correspondência essa, trocada entre Álvaro Velho e o soberano. Na altura, era Álvaro Velho vedor e recebedor das obras do Mosteiro de S. Francisco na cidade de Évora, e paralelamente, grande proprietário nessa cidade (2), que regista ainda hoje em dia um largo com o seu nome.
Refira-se que as obras do convento de S. Francisco foram iniciadas em Maio de 1508 e concluídas em Maio de 1509 (3). A correspondência enviada pelo rei a Álvaro Velho é proveniente dos paços de Almeirim, dos Paços de Alcochete e dos paços de Lisboa. No entanto, uma única carta se encontra datada de Alcochete como segue: «Nós el-rei vos enviamos muito saudar. Mestre Olival veio a nós nos requerer algumas cousas acerca das obras que for nesse mosteiro. E quanto ao mais dinheiro que nos pediu que lhe mandássemos dar por respeito da mais obra que acrescentou no retávolo (…) com ele assentamos que fizesse cento trinta mil oitenta reis. E por que ele se obrigou a nos dar feita e acabada toda a dita obra, que assim agora com ele concertamos até um ano cumprido que começa a correr da feitura desta carta, avemos por bem que lhe paguem estes cento trinta mil oitenta reis que nele monta aos meses (…) Escrita em Alcouchete aos 28 de Março de 1508, Rey.
Para Álvaro Velho, do despacho de Mestre Olival 4.Embora não seja referido o dia, numa carta datada de 1508, dos paços de Almeirim, Mestre Olival endereça da seguinte forma a carta a Álvaro Velho: «Ao virtuoso senhor Álvaro Velho, vedor e recebedor das obras do Mosteiro de S. Francisco da cidade de Évora, por especial mandado de sua Alteza» (5).

Pela forma com Álvaro Velho é tratado, de que são exemplo as passagens destas duas cartas, conclui-se que seria personagem da estima do soberano. O ser natural do Barreiro, não podemos neste momento afirmar que o não fosse, mas o facto de ser grande proprietário em Évora, Alentejo, região de onde (provavelmente) era natural Vasco da Gama, e com ele ter embarcado para a Índia, suscita-nos dúvidas quanto ao ter nascido no Barreiro, terra, aliás, onde até hoje não foi encontrada referência à sua passagem e muito menos documentos de propriedades suas.


Quanto ao paço real de Alcochete, sabido que o terramoto de 1755 o destruiu certamente, tal como Lisboa e toda a zona ribeirinha do Tejo, talvez não seja difícil de localizar, atendendo aos avanços que a arqueologia urbana tem registado nos últimos anos.

(1) Vasco da Gama e a sua Viagem de Descobrimento, pg.67
(2) Cópia e leitura de Documentos do Cartório da Câmara de Évora (1440-1598)
(3) Papéis pertencentes à Administração dos Pastos. Resumo das Propriedades, rendas e direitos que ao Concelho d'esta cidade de Évora pertencem que estão na Torre do Tombo que foi feito no ano de 1536
(4) Documentos pertencentes à cidade de Évora
(5) Idem, ibidem

Transcrito de “Comunidades.Net”

20 outubro 2006

Retalhos da Vida de Manuel, o primeiro


Acerca de Manuel, nascido em Alcochete, encontrei na Biblioteca Nacional, “Chronica do Sereníssimo Senhor Rei D. Manoel” escrita por Damião de Góis numa edição 1749, que simplesmente não resisto em deixar alguns links, para se ler sobre um do maiores monarcas do Mundo.

Esta crónica de Damião de Góis, dirigida inicialmente ao Cardeal- Infante D. Henrique, filho de Manuel, aparece aqui impressa (conforme original) com data de 1749 de modo a ser oferecida a D. Rodrigo António de Noronha e Menezes por Reinerio Bocache.


Do Nascimento

A sucessão

Falecimento

As feições de Manuel

As feições (continuação)

Esta obra pode ser vista na sua totalidade aqui.

10 outubro 2006

Mais uma curiosidade

Em periodo agitado de trabalho, e resolvidos os problemas com a Internet, deixo mais uma curiosidade de 1512. Uma cópia de alvará municipal que diz o seguinte na sua descrição:

“Cópia do alvará que derrogou aos moradores de Alcochete os privilégios que tinham contra as posturas do concelho, guardando-se somente o do secretário, ao qual isentou de todas as ditas posturas.”

23 de Outubro de 1512

Documento 1

Documento 2

A quem quiser participar neste blog, poderá sempre fazê-lo através de alcochetano@gmail.com


Até breve