31 maio 2006

Perda e Restauração do Concelho - Parte 4


Torna-se oficial
Em Diário do Governo, nº 220, de 30 de Setembro de 1895, torna-se publica a decisão que se temia desde Março: “São supprimidos: o concelho de Alcochete, cujas freguezias são annexadas ao de Aldeia Galega” (...)

Em acta de Sessão de Câmara da Aldeia Galega de 4 de Outubro de 1895 dá-se conhecimento oficial do novo território a administrar, e que os “archivos já tinham sido conduzidos para esta villa, nos dias 30 de Setembro e 1 do corrente mez, sob as ordens da auctoridade administrativa, o que era publico e do conhecimento de todos”. O jornal O Século de 1 de Outubro conta deste acontecimento da seguinte forma:

“Hoje de manhã cedo, fomos surprehendidos por uma força de caçadores 5, de 30 praças, e um empregado da administração do concelho de Aldegallega, a fim de removerem para ali os archivos das repartições d´este concelho, extincto por decreto. Sahiram já o da câmara e administração, devendo sahir amanhã o da repartição da fazenda e recebedoria. Tal extincção enlutou tanto este povo que tarde sahirá do crepe em que ficou envolto. Não felicitamos os aldegalleguenses, porque Alcochete e Moita saberão estabelecer uma forte corrente para que a justiça se lhes faça, quando no poder haja estadistas reparadores de tão grande injustiça. O povo assiste pacifico a tudo isto.”

In "Memórias de um Concelho", 1993


30 maio 2006

Grupo Desportivo Alcochetense


Numa altura um pouco preocupante para a vida do GDA, que após mais uma Assembleia Geral, em que nada foi decidido a favor da continuação ou nova proposta de uma Direcção para o clube, não posso deixar de mostrar aqui a minha mágoa, pelas possiveis nuvens negras que se abatem num pedaço da história Alcochetana.
Faço uma pausa sobre os posts referentes "Restauração do Concelho", para vos dar a conhecer uma entrevista pouco conhecida, de um dos fundadores do nosso Desportivo.
Não vamos deixar que um pedaço da nossa história acabe assim, de modo tão inglório, como é a falta de alcochetanos para servirem o seu clube do coração.
Aqui fica o principio da minha contribuição, para o meu clube.
"António Luís Rodrigues, natural de Alcochete, onde nasceu em 26 de Agosto de 1918, é do signo Virgem. A sua preferência clubística vai para o Sporting Clube de Portugal e para o Grupo Desportivo Alcochetense onde praticou futebol cerca de 13 anos. É sócio fundador, pois fez parte da Comissão Administrativa que foi constituída para fundar o Desportivo- É actualmente o sócio n.º 1 tendo sido agraciado como Sócio de Mérito em 1993 e recebido o emblema dourado de 50 anos de sócio em 1995.

G.D.A. Revista foi à conversa com António Luís Rodrigues, figura grata do Desportivo pelo seu passado enquanto Fundador, Dirigente e Atleta do nosso Clube.
Ficámos conscientes do seu sentir pelo Desportivo e da existência de alguma nostalgia pelos anos passados e da saudade pela época então vivida na sua juventude ligada à fundação e aos problemas decorrentes.
A emoção veio ao de cima à medida que as perguntas surgiram e até uma ou outra lágrima atrevida bailou nos seus olhos.
Conversa interessante que nos revelou algumas curiosidades, entre elas a posse de um emblema do G.D.A. em ouro e brilhantes (uma relíquia) que lhe foi oferecido há muitos anos pela Tia Maria, mulher do Tio Manuel Perinhas, que até eram imparcialistas.

Como começou o Desportivo?
O Desportivo teve o seu início pela iniciativa de um grupo de rapazes que gostavam de jogar à bola.Juntávamo-nos na casa de comidas do Tio Alfredo que era propriedade do Avelino José Carvalheda mais conhecido por Avelino Rato. Foi aí que começou o Desportivo.

Quem foi o responsável pelo nome dado ao Clube?
Nessa altura quando o Desportivo começou a praticar futebol, não existia actividade noutros Clubes pois o Sport, o 1º Maio e o Imparcial, Clubes que foram criados para o futebol, estavam parados.Entretanto o Sport e o 1º de Maio acabaram ficando só o imparcial embora sem actividade. Assim e como não existia um Clube com o nome ligado à nossa terra, a ideia partiu do João Mitra de ser Grupo Desportivo Alcochetense.

E quanto ao equipamento. Qual a razão de verde e branco?
A escolha do equipamento ser à Sporting foi motivada por a maioria da rapaziada que formou o Clube serem Sportinguistas, que era o meu caso, embora houvesse alguns que o não eram.

Em que campo disputavam os jogos?
Nessa época não tínhamos campo embora existisse um que era da Câmara. Tivemos problemas pois não nos autorizavam a jogar lá. Eu era escrevente das marinhas do Sr. Dias de Sousa e então juntamente com o António Lopes e o Artur Rodrigues, que era meu primo, fomos falar com ele e pedimos-lhe se nos deixava fazer um campo numa cabeceira da marinha do Brito, no caminho das secas de bacalhau. O Sr. Dias de Sousa deu-nos autorização e lá construímos o Campo da Praia só que o terreno era muito areoso e até lhe chamávamos o "amansa cavalos".
Quem era o treinador da equipa?Quando começámos não tínhamos bem treinador, mas era o João Eduardo Canteiro quem tomava conta da equipa.

Hoje os jogadores têm compensações e transportes. Como era no seu tempo?
Todos os que jogavam não recebiam nada e até os transportes eram de nossa conta. Quando íamos por exemplo à Costa da Caparica jogar íamos de barco e as despesas eram suportadas por nós.

Onde se localizava a primeira Sede?
Durante algum tempo não tivemos sede e equipavamos numa adega que existia na Rua Senhora Santana e íamos a pé até ao campo para jogar. A primeira sede foi na Rua do Troino no primeiro andar que faz esquina com a Rua José André dos Santos.

Ainda chegou a jogar no Campo de Jogos, que é propriedade do Clube junto à E.N. 119?
Sim joguei lá. O "Foni", que antes pertenceu ao "Sport", que veio a acabar, comprou o campo para o Desportivo e passámos a jogar lá e nessa altura os postes de electricidade estavam junto às linhas laterais do campo.

Além de jogador também foi director?
Sim fui director e tratava dos assuntos do Clube deixando muitas vezes o meu estabelecimento com esse fim. Participei também em reuniões da Associação de Setúbal.

Houve uma tentativa para uma fusão com outro clube da terra. Como foi isso?
De início as primeiras quotas eram dez tostões mas as pessoas aderindo ao Desportivo e ganhámos força.Então algumas pessoas do Imparcial juntaram-se a nós e foram bem recebidas. Mais tarde e porque o Imparcial estava inactivo outras propuseram que fosse feita essa fusão e fez-se uma assembleia. Só que a maioria não aceitou e aí veio a desunião e a grande rivalidade entre as duas colectividades.

Sabemos que o seu fervor clubista fez com todos os seus familiares sejam sócios do Desportivo.
Eu e a minha mulher somos sócios. A minha filha quando nasceu também a inscrevi e às minhas netas também. Somos todos do Desportivo.

Gostaríamos de ouvir uma história curiosa que se tivesse passado consigo ligada ao Clube.
Houve uma situação num jogo com o Imparcial que se passou comigo e com o João Rei na altura em que eramos jogadores. Os árbitros faziam a chamada dos jogadores para entrarem em campo. Nós não tinhamos os cartões mas íamos jogar. Então quando chamaram os nomes do "Bronze" e do "João Tomé" eu e o João Rei respondemos como se fossemos eles. Jogámos e não houve problema. Só que mais tarde vieram a aperceber-se disso e foram apresentar queixa à Federação, que nessa altura tinha a sede na Praça do Camões em Lisboa. As nossas fichas estavam em Setúbal mas a Associação não tinha enviado os cartões. Fomos então castigados com dois jogos cada um por termos mentido.

O que acha do actual Desportivo?
Está no bom caminho e encontro-me muito satisfeito com o que se está a passar. No entanto em termos futebolísticos lembro o tempo da segunda divisão nacional e a elimanatória com o Sporting para a Taça de Portugal, que foram pontos altos na vida do nosso Clube.

Demos a conhecer ao nosso entrevistado os projectos que existem para desenvolver, como o complexo de piscinas, a auto-construção das garagens, o furo de captação de água e o loteamento do campo de jogos e quizemos saber. Qual a sua opinião?
Tem que haver iniciativa e sobre isso que me contam só posso dizer que é uma coisa boa para o Desportivo.

Qual o seu maior desejo para o futuro do Desportivo?
Em primeiro lugar sermos amigos do Desportivo e fazermos tudo o que pudermos pelo Desportivo."

In "GDA Revista" s/d

29 maio 2006

Perda e Restauração do Concelho - Parte 3


O Pedido a sua "Magestade", Rei D. Carlos


Documento enviado a Rei D. Carlos, a 17 de Março de 1895, expondo as razões que justificavam a manutenção da autonomia do concelho.

(Resposta à deliberação de João Franco, publicada no diário do Governo nº 50, de 4 de Março de 1895, onde reclassificava Alcochete como concelho de 2ª Ordem, ou seja, aqueles que “dispõem os sufficientes recursos para custear (...) os encargos do concelho”.)

"Acta solenne de reunião promovida pela Câmara Municipal em 17 de Março de 1895

Aos dezesete dias do mez de Março do anno de mil oito centos novente e cinco, n´esta Villa d´Alcochete eschola “Conde Ferreira achando-se ahi reunida a Câmara municipal sob presidência do Senr. D. António Luiz Pereira Coutinho comparecendo a este acto o Senr. Administrador do Concelho D. João Pacheco Pereira Coutinho, a Junta de Parochia d´esta freguesia, os oitenta maiores contribuintes e diversos industriaes e commerciantes do dito Concelho tomando o Senr. Presidente a palavra pelo memso Senr. foi ponderado que, tendo em sessão camarária de onze do corrente feito aos seus colegas na vereação a leitura da nova reforma administrativa ultimamente decretada, a Câmara, na incerteza da classificação do Concelho ficará considerado em virtude das disposições do artº 467 da dita reforma, o havia encarregado de promover a presente reunião a fim de se determinar o que mais conviniente fosse à independência e conservação do concelho.
Em vista pois do que expunha e attendendo á máxima urgência de se proceder de modo a que sejam mantidas as garantidas de independência a que o concelho tem justo direito, já pelos recursos pecuniários de que dispõe e que lhe permittem a conservação da sua autonomia, já pelas largas tradições da sua antiguissima historia municipal; era de parecer que se representasse, levando tão ponderados motivos ao conhecimento de Sua Magestade a fim de ser considerado de 2ª classe em face da nova lei administrativa (...)
Senhor. Alcochete é um dos concelhos mais antigos do Reino é anterior á própria monarchia.
Aqui nasceu El-Rei D. Manuel tanto este venturoso monarcha, como outros reis, predecessores de Vossa Magestade, e dos mais celebres na história D. João 1º, D. João 2º, D. João 5º, distinguira este município com muitas honras e privilégios.
Muitos filhos d´esta terra derramaram o seu sangue nos campos de batalha pugnando pelo engrandecimento e pela autonomia da pátria.
O desinvolvimento da produção no Concelho é cada vez mais promettedor. É já larga a produção de arroz e outros cereaes, bem como de azeite, o sal vae até 100:000 moios e o vinho até 6:000 pipas. Tem em exploração propriedades como Barroca d´Alva, Rio Frio, Monte Laranjo, Monte Rodrigo e Pereiro, e outras que são das mais valiosas e das mais ricas do sul do Tejo.
Além d´outras industrias possue uma fabrica de phosphoros que emprega um numeroso pessoal e todos os annos dá de rendimento ao Estado só em serragem 20:000$000 réis.
O rendimento do Concelho é superior a 34:000$000 réis para o Estado e a 8:000$000 réis para o Concelho.
Orça a população por 7:000 almas e contem mais que suficiente para encargos administrativos.
Finalmente uma circunstancia pode invocar este Concelho, que poucos poderão allegar e que muito deverá influir no paternalismo de Vossa Magestade.
È que nunca se recorreu aqui a um empréstimo e teem estado sempre em dia os pagamentos!
O Concelho tem vivido dos seus rendimentos ordinários e á sombra d´esta administração exemplar tem visto prosperar a sua população, a sua industria e o seu commercio.
Não poderiam pois resignar os abaixo assignados com a perda da sua autonomia.
Senhor. Esta exposição toda fundamentada na verdade dos factos, abona, sem contestação a justiça dos habitantes d´Alcochete.
Por isso os abaixo assignados Pedem a Vossa Magestade a graça de mandar considerar de 2ª Ordem de Concelho. “E R. M cê “
E sendo a dita representação devidamente assignada para o fim de ser enviada ao seu destino coma máxima urgência, deu o Senr, Presidente por terminado o fim da reunião mandando, paa tudo constar, lavrar a presente acta que vae assignar com todos Senrs. Vereadores presentes, depois de ser lida por mim, José Francisco Evangelista, secretario da câmara que a escrevi

O Presidente da Câmara
D. António Luiz Perª Coutinho

O Vice-Presidente
Augusto Monteiro Forte

Os Vereadores
Manoel Pedro Bagatella
Francisco Maria Pereira"
(Continua)
In "Memórias de um Concelho"

26 maio 2006

Perda e Restauração do Concelho - Parte 2


Apontamento de inserção no contexto da extinção de Concelhos

A instauração do Liberalismo em Portugal, processo longo e penoso, traduziu-se também na promulgação de inúmeros diplomas que previam a abolição das estruturas de Portugal do Antigo Regime e a construção dos alicerces do Estado Moderno:

- As Constituições de 1822, 1826,1838 e 1852;
- A Legislação de Mouzinho da Silveira;
- Os inúmeros Códigos administrativos, comerciais, penais e civis.

O Liberalismo visava a instauração de uma administração centralista e hierarquizada, tendo como objectivo o controlo efectivo do território nacional e das comunidades locais. Contudo o processo não foi linear, muitos foram os avanços e os recuos, as hesitações e os compromissos.
A implementação da reforma administrativa, iniciada com Mouzinho da Silveira em 1832, prosseguida pelo decreto de 1835 e pelos Códigos Administrativos de 1836, 1842, 1878, 1886 e 1896, acompanhava as movimentações político-partidárias, ainda que as diferenças fundamentais entre os diversos códigos promulgados se limitasse à alternância entre uma menor ou maior centralização.

A Extinção de Concelhos

O Código Administrativo de 1896, promulgado pelo governo de João Franco, caracterizou-se pela insistência na tendência centralizadora, tendo vigorado até ao período republicano.
A preparação deste Código terá sido certamente condicionada e influenciada pela profunda crise nas instituições da Monarquia e na sociedade que caracterizou a ultima década do século XIX. Dos inúmeros problemas que se colocavam ao governo, a questão mais urgente a resolver era a da crise financeira do Estado, em constante défice orçamental. As finanças publicas estavam asfixiadas pelo aumento das despesas, pelo fraco crescimento das receitas e pelo engrossar da divida publica interna e externa.
Não pretendendo o Governo levar a cabo uma profunda reforma administrativa, havia contudo identificado, como matéria de urgente reformulação, a constituição e organização dos municípios.
Constatando-se que os pequenos municípios não estavam em condições de acertar o passo com os restantes, imperiosa era a obrigação, no entender de João Franco, de extinguir os que não ofereciam condições de vida, pelo que, durante a vigência deste Código, foram suprimidos 46 concelhos. Todos eles se encontravam associados a exageros tributários, medíocre administração e desperdício de forças de riqueza, em completo desajuste com a política central de restrição financeira. Para alem disso, através desta acção, o governo economizou 116 contos.
Esta tendência de redução do número de concelhos verificava-se já desde o Código Administrativo de 1836: 1827 – 806 concelhos; 1836 – 351 concelhos; 1878 – 290 concelhos; 1900 – 291 concelhos.


Fonte: "Memórias de um Concelho"

(Continua)

25 maio 2006

Perda e Restauração do Concelho - Parte 1


“(...) a supressão de Concelhos foi uma das principais medidas adoptadas com vista a um aumento do controlo efectivo, aliado à consequente vantagem da poupança dos orçamentos destinados aos municípios (Governo de João Franco promulgou o Código Administrativo de 1896) .

Para tal, a administração Distrital de Lisboa inquiriu os vários municípios, diagnosticando deste modo a sua capacidade efectiva de permanecerem, ou não, com o estatuto de autonomia local. Na época, Alcochete era um concelho do distrito de Lisboa, pelo que estava sob a alçada desta administração. A leitura deste tipo de inquéritos é-nos hoje importante, uma vez que neles se encontram relatadas valiosas informações sobre o estado dos municípios da época. Num documento de 1897, publicado por uma facção que estava a favor da integração de Alcochete no município de Aldeia Galega, encontra-se mencionada uma sindicância feita em 1880 no nosso Concelho. Apesar de não ser uma escrita de todo isenta, uma vez que o recurso ao referido inquérito constitui o principal argumento para fazer valer a ideia da desejada integração, não deixamos de aqui mencionar os aspectos negativos que são apontados à antiga administração alcochetana na década de 80 do século XIX.

São então referidas “Irregularidades, abusos e escândalos, (...) o thesoureiro infiel, que, em proveito próprio ou alheio dissipou o melhor de seis contos de reis em prejuízo do cofre municipal”. Mais à frente refere-se que “o edifício da escola municipal do sexo masculino da freguezia de S. João Baptista (Escola do Rossio) tornado inhabitavel, os paços da Câmara quasi em ruínas, as estradas concelhias ao abandono, uma divida enorme ao hospital de S. José de Lisboa, a percentagem de 50 % addicionada ás contribuições de estado, vexatoros impostos lançados sobre todos os géneros tributáveis, clamavam contra a má administração do concelho (...)*

*"Questões da Actualidade – o extincto concelho de Alcochete e seus antigos munícipes” – Aldeia Galega, 1897, pp. 3 e 4.

Em Março de 1895 surgem os primeiros indícios da intenção do governo do Terreiro do Paço de extinguir uma série de concelhos. Nesta altura chegam da Administração Distrital de Lisboa dois inquéritos a fim de o executivo de então prestar contas do estado do concelho. Apesar de algumas perguntas serem as mesmas para ambos os questionários, merece que se faça aqui a sua transcrição fidedigna, bem como das respectivas respostas. (Aqui deixo apenas um)

Resposta ao questionário que acompanhou o officio n. 93 da Autoridade d´este concelho na data de 12 do corrente

Qual a receita do concelho com designação de própria da instrucção e viação referida ao anno próximo findo?
R. A receita própria da instrucção primária em 1894 foi de 1:683$010 réis, não contando com um saldo importante que na caixa geral de depósitos deve existir a favor d´este concelho; e a receita própria da viação foi 9:826$284 réis em que se compreende a quantia de 7:730$517 réis de saldo que transitou de 1893 para 1894 e bem assim a de 833$746 réis em depósitos na dita caixa geral; e a do Conº não contando com o saldo de 1893 foi de 6:111$942 réis.

A Câmara municipal funcciona em edifício próprio?
R. Funcciona

Quaes as demais repartições publicas que funccionam em edifícios da Câmara?
R. Mais nenhuma

Tem a Câmara contrahido empréstimos?
R. Nenhum

Qual a sua importância?
R. Prejudicado

Tem pago regularmente as respectivas prestações?
R. Prejudicado

Quando termina a amortisação?
R. Prejudicado

Qual a importância das contribuições directas lançadas pela Cam.ª?
R. O producto da contribuição municipal directa lançada em 1894 foi de 4:186$121 réis em que se comprehende a pertencente á instrucção primaria descipta na resposta ao primeiro inquérito.

Tem lançado contribuições indirectas?
R. Tem

Qual a sua importância?
R. A importância das contribuições municpaes indirectas em 1894 foi de 4:415$000 réis.

Tem satisfeito as despesas com o serviço d´expostos?
R. Tem

Tem a Cam.ª satisfeito as despesas com os vencimentos dos finccionarios a cargo do cofre municipal?
R. Tem

Estão em dia os pagamentos das demais despesas obrigatórias?
R. Estão

Qual o estado de viação a cargo da Câmara?
R. Suffrivel

Quaes as obras começadas e não concluídas e respectivos encargos, bem como os de conservação?
R. Não existem obras começadas e com referencia aos encargos de conservação têem estes sempre merecido a especial attenção da Câmara.

Existem estabelecimentos industriaes no concelho?
R. Existem, sendo um dos principaes uma fabrica de phosphoros ordinários e amorphos.

Quaes os capitais em circulação e pessoal empregado?
R. Quanto aos capitais em circulação não se podem precisar por falta de elementos necessários e quanto ao pessoal empregado na referida fabrica e outras industrias sobe o numero a mais de 700 pessoas.

Quaes os ramos mais importantes de comercio do Concelho?
R. O sal – vinho - azeite de oliveira – cortiça - rama de pinha - fachina (farinha?) –carvão - batata e cebolla.

Quanto contribue o concelho para as despesas geraes do estado?
R. O concelho contrubue para o thesouro com a quantia superior a 34:000$000 réis.

Secretaria da Câmara municipal do Concelho d´Alcochete 14 de Março 1895.




Nestes curiosos documentos temos uma imagem de um concelho estável financeiramente, com capacidade autónoma, sem grandes investimentos, apenas com obras de manutenção de algumas estruturas vitais. Apenas se admite o estado suffrivel das estradas concelhias".

(Continua)

In "Memórias de um Concelho - 15 de Janeiro de 1898", 1993.

24 maio 2006

Samouco


A sua privilegiada situação geográfica determinou a vida das gentes desta povoação ribeirinha. Os seus múltiplos afazeres determinaram o alegre cenário de outrora, marcado pelo vai vem das carroças que, carregadas dos mais diversos produtos, se deslocavam das quintas e adegas em direcção ao cais.

Torna-se muito difícil localizar no tempo os fenómenos que deram lugar à génese da povoação chamada Samouco.

Maria Alfreda Cruz, na sua obra “A Margem Sul do Estuário do Tejo”, página 27, ao citar Virgínia Rau, afirma que o Samouco remonta ao ano de 1241.
Segundo a informação de José Estevam in “Anaus de Alcochete”, página 7, verifica-se que no século XV, os lugares de Samouco, Aldeia Galega e Sarilhos, conjuntamente com a vila de Alcochete, constituíam o Concelho de Santa Maria de Sabonha, cuja sede de paróquia funcionava na igreja do mesmo nome, implantada no local que mais tarde se veio a chamar de S. Francisco.
Em pleno século XV, a Ordem de Santiago dissolve o concelho de Santa Maria de Sabonha e cria o concelho de Aldeia Galega, ao qual junta o lugar de Sarilhos e o concelho de Alcochete, juntando a este, o lugar de Samouco.
É nos fins do século XVI que a freguesia de S. Braz de Samouco se formou.
Em 1895, com a dissolução do concelho de Alcochete, são anexadas ao concelho de Aldeia Galega a vila de Alcochete e a freguesia de Samouco.
Três anos mais tarde, Alcochete conquista de novo a municipalidade, voltando a freguesia de Samouco a fazer parte deste concelho.
A julgar pelo número reduzido de óbitos registados entre 1646 e 1650 somos levados a pensar que este lugar gozava de óptimos ares, facultando uma certa longevidade aos seus habitantes.
Aliando este facto à riqueza das potencialidades agrícolas e piscatórias existentes neste lugar, poder-se-á inferir das razões que levaram grande número de pessoas, dos mais variados locais do país e até do estrangeiro, por volta do século XVII, começaram a afluir ao Samouco.
Segundo José Estevam, em pleno século XVII, poderíamos encontrar no Samouco, ocupados nas mais diferentes profissões, trabalhadores vindos de Viseu, Lamego, Torres Novas, Oliveira de Frades, Setúbal, Barreiro, Lavradio e Coimbra. Também da Galiza e de Génova vieram homens que casaram com mulheres do Samouco.
Diz ainda José Estevam que aqui residiam alguns fidalgos. Na verdade, ainda não há muito tempo, antes da construção da Base Aérea nº 6 – Montijo, existiram várias quintas com casas senhoriais em cujas paredes se encontravam esculpidos os respectivos brasões.
Como exemplo destas, temos notícia da Quinta da Rota, que foi propriedade dos Condes de S. Vicente, e possuía uma capela dedicada à Santíssima Virgem; ou a Quinta pertencente a D. Diogo de Sá.
Houve ainda outros fidalgos que preferiram o Samouco para residência; ainda hoje se diz que os condes de Távora, quando se viram perseguidos, aqui se esconderam, em quintas pertencentes a esta família.
No século XVI e seguintes, a pequena povoação de Samouco encontrava-se circundada de belas quintas de pomares e vinha. Nestas eram produzidos variadíssimos produtos, tais como: laranjas, damascos, figos, cereais e vinho.
Estes produtos, que saíam todos os dias do Samouco, embarcavam nas fragatas e viajavam até à outra margem, para abastecer os mercados da capital.
Os figos do Samouco gozavam de grande fama em todos os mercados e bairros populares de Lisboa, graças a uma técnica inédita que os agricultores usavam quando estes ainda estavam na árvore.
O vinho conjuntamente com o sal, dado que também existiam muitas salinas, constituíam dois produtos nobres para a economia nacional da época. É de admitir que também o Samouco tenha contribuído de forma assinalável com o fornecimento de vinho e sal, para exportação, durante a época da expansão marítima portuguesa.
No século XIX, J. J. Ferreira Lapa, ao descrever as vinhas da margem sul do estuário do Tejo, notava “… depois dos de Almada, os do Seixal e da Moita, vinho de pasto de excelente sabor, os adamados e doces bastardos do Barreiro e Lavradio, os de Samouco, no concelho de Alcochete, bom tipo de mesa”.
Alberto Pimentel, in “A Estremadura Portuguesa”, 1908, pág. 137, diz: O professor Aguiar compreendeu os vinhos de Alcochete no distrito vinícola do Lavradio (prolongando-o desde Alcochete até ao Barreiro) e especializou os do Samouco.
Numa paródia aos sinos de Corneville, há anos representada em Lisboa, dizia-se:
“Vinho do Samouco!Achei bem poucoO que bebi…”.
Também existiam no Samouco grandes extensões de mato e pinhais, dos quais eram extraídos o mato e a lenha que se destinavam a abastecer as residências e os fornos de pão, cal e louça, instalados na capital.
Dada a sua familiaridade com o rio Tejo, a pesca não poderia deixar de constituir uma importante fonte de riqueza para a população de Samouco.
Outra actividade curiosa que se praticava no Samouco, foi a apanha da murraça que era vendida como alimento para o gado.
Possui o Samouco uma bonita igreja, dedicada a S. Braz, cuja data de construção não é possível afirmar; no entanto, existem notícias de visitações da Ordem de Santiago que remontam ao século XVI.
No registo de uma dessas visitações, consta que a igreja tinha o tecto pintado e as paredes revestidas de azulejos com cenas da vida de S. Braz.
A igreja ficou muito danificada por ocasião do terramoto de 1755.
Apesar de ter sido restaurada várias vezes e renovada em 1919, conservou no altar mor a sua antiga obra de talha.

A população de Samouco, cujo apego ao trabalho a caracteriza, também tem manifestado ao longo dos tempos o gosto pelas festas e romarias.
Notícias de 1758 dizem que no Samouco se realizavam cinco festas por ano. Estas eram dedicadas a S. Braz, Nossa Senhora do Rosário, Santo António e Menino Jesus.Algum tempo depois, tinham aqui lugar as festas da Nossa Senhora do Monte Carmo, no segundo Domingo de Novembro e as de S. Braz a 3 de Fevereiro.

23 maio 2006

Um Pórtico que caiu em decadência

Antes de se construir o convento que deu nome à localidade, esta foi conhecida como Sabonha (também aparecendo designada como Sabona ou Saboya), chegando a ser uma das sedes do antigo concelho do Ribatejo, juntamente com Alhos Vedros.
Desde 1249, ano em que aparece documentada pela primeira vez (VARGAS, 2004, p.29) até aos inícios do século XVI, altura em que foi suplantada por Alcochete e por Aldeia Galega (actual Montijo), Sabonha foi a freguesia desta secção do antigo Ribatejo, estando simultaneamente vinculada à Ordem de Santiago.
Como lugar dominante, aqui se construiu uma primeira igreja, dedicada a Santa Maria, símbolo por excelência da autoridade da povoação sobre o território circundante. Infelizmente, dela pouco ou nada sabemos, para além do que contam as Visitações da primeira metade do século XVI e do que revelaram as escavações aqui efectuadas em 2004, conduzidas por Miguel Correia. As Visitações de 1512 e de 1553 elucidam-nos acerca da configuração da igreja. Assim, ela tinha planta de nave única, com cerca de 18m de comprimento, por 6 de largura, a que se associava um alpendre quadrangular à frontaria, capela-mor ao que tudo indica rectangular (de aproximadamente 7 por seis metros) e duas pequenas capelas laterais, que conferiam ao conjunto um aspecto de planta em cruz latina. Os focos de iluminação eram escassos, resumindo-se a frestas nas três capelas, e acedia-se ao interior por intermédio de três portas, uma aberta no alçado principal, "em pedraria de ponto", e outras duas nas faces laterais da nave. O interior possuía tecto de madeira, à excepção das duas capelas, que seriam abobadas. O retábulo-mor, em talha, tinha ao centro a imagem de Nossa Senhora com o Menino acompanhada por pinturas sobre tábua alusivas aos Reis Magos, Visitação, Concepção da Virgem e Natividade (IDEM, pp.34-39).
Apesar da relativa decadência da localidade, não terão cessado as obras, como se comprova pelo novo arco triunfal, realizado em 1528 por dois pedreiros de Palmela (IDEM, p.35). No entanto, dois anos antes, o "progressivo abandono e ruína" foi realçado pelo visitador e, em 1564, quer o alpendre, quer a casa do ermitão estavam já em ruínas (IDEM, p.41).Integrada definitivamente no concelho de Alcochete, Sabonha havia perdido, por essa altura, a importância que tivera durante os séculos finais da Idade Média. Tanto decaiu que, um século depois, em 1572, uma nova fundação religiosa (de frades franciscanos) ocupou o que restava da ermida e o novo fôlego imprimido à localidade foi de tal ordem que ela própria mudou de nome, passando a designar-se por São Francisco. O Convento foi dedicado a Nossa Senhora do Socorro e dele também já nada resta, à excepção do monumental pórtico barroco que marcava a entrada no antigo recinto. Este elemento patrimonial é a face visível do período de maior desafogo da instituição, verificada na segunda metade do século XVII e primeiras décadas do seguinte, "altura em que teve maior número de frades, foram ampliadas as instalações e não parece ter havido grandes problemas de rendimento" (IDEM, p.67).
O pórtico compõe-se de tripla arcada de volta perfeita, seccionada por pilares rectangulares, sendo os arcos encimados por frontões triangulares em forma de cortina e rematados os laterais por pináculos e o central por cruz. Nos tímpanos e nas faces que separam os frontões, existem pequenos painéis de azulejos azuis e brancos, saídos do ciclo lisboeta dos Grandes Mestres, a maioria dos quais retratando santos franciscanos, em especial Santo António, que ocupa o painel central.Da igreja, claustro, refeitório, celas dos frades, cavalariças e cisterna, tudo desapareceu. Em 1834, a comunidade foi extinta e, quatro anos depois, passou para a posse de um homem de Alcochete, conhecido como Chapéu de Ferro, cuja morte trágica a lenda conta ter ocorrido no antigo convento, quando procedia ao desmantelamento do edifício para venda de pedra como, de facto, veio a acontecer.
PAF, in IPPAR
Como a Câmara Municipal de Alcochete não está a prestar um serviço digno aos seus municipes, optei por colocar não qualquer foto a ilustrar a história do Convento de S. Francisco. Por mais que a História seja interessante, ao leitor apenas cabe imaginar como será as ruinas aqui descritas, pois nem no site da CMA, que nem se dignam a colocar o site de modo a que todos o visualizem, se enciontra uma foto sequer.

19 maio 2006

Igreja Matriz (Parte 1)


Como é dada a conhecer:

"É um templo muito antigo construído sobre os alicerces de uma antiga mesquita, que sofreu remodelações desde os inícios do século XVI até 1943. Nas traseiras do edifício uma bela cruz de azulejos assinala uma data: 1678. Isto quererá dizer que a capela-mor foi reformada nesta altura. A fachada é gótica, gótico é também o portal e a rosácea. A torre sineira parece ser do século XVII devido ao tipo de coroamento que possui.
O interior é de três naves gótico-manuelinas. A capela-mor é do século XVII resultante, como já dissemos, da remodelação havida nesta época.
Tem as paredes cobertas parcialmente de azulejos azuis e brancos dos inícios do século XVIII e ainda outros padrões de variados tipos mudéjares de aresta e alguns da época manuelina. Outras capelas estão cobertas de azulejos setecentistas. Na Sacristia existe um belo exemplar de arcaz e duas pinturas flamengas sobre madeira do século XVI, provenientes da Ermida de Nossa Senhora dos Matos, que é um pequeno templo perdido no meio rural do termo da vila."

In página “Costa Azul”

Na verdade, a História ainda não concluiu:

"São ainda escassos os dados relativos às origens da vila de Alcochete. As suspeitas de uma fundação no período islâmico assentam sobretudo no próprio topónimo, reforçadas pela crença da existência de uma mesquita sob os alicerces da Igreja Matriz, actual templo de devoção ao culto de São João Baptista. Contudo, toda esta tese debate-se com a inexistência de bases seguras que comprovem a antiguidade, envolta sobretudo em crenças alimentadas por uma historiografia de forte teor nacionalista. Mesmo que ainda não tenham surgido provas concretas desta presença, cientes de que até podem nem surgir, há que ponderar e tomar uma posição bastante crítica sobre estas ideias fortemente influenciáveis para o erro. Paulo Almeida Fernandes, num texto sobre a Igreja Matriz de Alcochete, defende a necessidade de se “desmistificar a suposta identificação de uma mesquita sob os [seus] alicerces (…), pelo menos até que surjam indícios seguros (…)” (Fernandes, 2003, p. 14)."

Revista Portuguesa de Arqueologia. Volume 7. Número 1.2004, p.645-646

18 maio 2006

Ser Alcochetano



















Se alguém precisa de saber, o que sente um Alcochetano, então esta é uma grande verdade.


"O Alcochetano nasce entre o mar e a lezíria. Faz-se homem entre sal e a charneca. Torra-se ao sol do 'Salgado' do seu Tejo e morre, se for preciso, embarbelado entre os cornos de um toiro. Tais atributos de real valia, bem mereciam que alguma coisa os perpetuasse. José André dos Santos, alcochetano dos quatro costados como soe dizer-se, meteu mãos à obra e lançou um dia, a ideia de os consagrar. Aos quatro ventos se propagandeou a lembrança: na imprensa (O Século dando o primeiro sinal de avançar), na rádio, no boca-a-boca!...Que sei eu!... Tudo puxou certo. De todas as formas e feitios se trabalhou. Todos os esforços se congregaram. E assim surgiram, castiças e belas, as primeiras 'Festas do Barrete Verde e das Salinas', e o seu êxito correu célere, do Sul às longínquas terras nortenhas. Ficaram saudades da 'Festa'? - Se ficaram. E mais que saudades, ficou o imperioso dever de se repetirem, ano a ano, como cartaz de uma linda Terra que a Deus aprouve marcar na formosura dos seus encantos naturais, da mesma maneira que marcara as amorosas flores dos seus jardins. Assim foi que, certo dia, três homens se deram as mãos (António Rodrigues Regatão, Joaquim José de Carvalho e Joaquim Tomaz da Costa Godinho) e ali mesmo, no Terreiro da nossa vila, na velha farmácia Gameiro, chamaram a si mais dezasseis carolas e na noite de 20 de Agosto de 1944, todos juntos, entre nacos de pão com linguiça assada e algumas goladas de água-pé, já bem madura, resolveram fundar o ' Aposento do Barrete Verde ', penhor seguro da continuação das Festas. (...)

Texto de Agosto de 1969, publicado no programa das Festas do Barrete Verde e das Salinas desse ano, de autoria de Dr. José Grilo Evangelista

16 maio 2006

Um duro chamado Ciprião


Conde da vila de São Sebastião (por D. António I) distinguiu-se como corregedor dos Açores durante a crise de sucessão de 1580, tendo governado o arquipélago durante o período conturbado que se seguiu à aclamação nas ilhas de D. António, Prior do Crato como rei de Portugal. A ele se deve a fortificação e organização da defesa da ilha Terceira que levou à vitória na batalha da Salga.
Ciprião de Figueiredo era natural de Alcochete. Filho de Sebastião Gomes de Figueiredo e de D. Antónia Fernandes de Vasconcelos, filha do arcebispo de Lisboa D. Fernando de Meneses Coutinho e Vasconcelos. Por este lado descendia dos Meneses da rainha Leonor Teles.

Em 1576 foi nomeado por D. Sebastião para o cargo de corregedor dos Açores.

A divisa dos Açores, que reza "Antes morrer livres que em paz sujeitos", é retirada de uma carta escrita a 13 de Fevereiro de 1582 por Ciprião de Figueiredo, então corregedor dos Açores, a Filipe II de Espanha. Naquela missiva recusa a sujeição da ilha Terceira em troca de mercês várias, dizendo: "... As couzas que padecem os moradores desse afligido reyno, bastarão para vos desenganar que os que estão fora desse pezado jugo, quererião antes morrer livres, que em paz sujeitos. Nem eu darei aos moradores desta ilha outro conselho... porque um morrer bem é viver perpetuamente..."

D. António em prémio da fidelidade do corregedor, quando o chamou a Paris, agraciou-o com o condado da vila de São Sebastião, localidade em cujos arrabaldes se travou a batalha da Salga.
Era irmão de Duarte de Figueiredo e Vasconcelos, que possuía o prazo de Veloso que lhe dera o avô sendo bispo de Lamego. Esse prazo foi aumentado, porque Duarte de Figueiredo e Vasconcelos, irmão do corregedor da ilha Terceira, serviu Filipe II de Espanha. D. João IV não tirou também aos Figueiredos os seus direitos em favor de outros que o aclamaram; um filho daquele Duarte serviu D. João IV, como seu pai servira Filipe II.

Madame de Saintonge escreveu no seu célebre livro "Vie de Don Antoine, roi de Portugal" uma pouco menos de fantástica genealogia de seu tio-avô Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos.
Durante muitos anos a Escola Preparatória de Angra do Heroísmo teve Ciprião de Figueiredo como patrono, sendo o nome hoje perpetuado numa rua daquela cidade. Também (aqui em) Alcochete, sua terra natal, lhe dedica uma das suas principais artérias.

In Wikipedia

Padre Cruz




A 29 de Julho de 1858 nasceu, em Alcochete, o Padre Francisco Rodrigues da Cruz. Esta Vila já notável, entre outros motivos, por ter sido o berço de D. Manuel I, o Venturoso, e do Beato Manuel Rodrigues, um dos 40 mártires do Brasil, viu crescer a sua importância, por aqui ter nascido, aquele que já em vida era conhecido pelo Santo Padre Cruz, que esperamos, um dia, venerar nos altares. A humanidade celebra na sua história inúmeros grandes acontecimentos.

Do nascimento do Santo Padre Cruz em Alcochete nos orgulhamos todos nós, juntamente com a Vila de Alcochete, porque ela foi o berço daquele que seria outro S. João Maria Vianney, o Santo Cura d'Ars, que faleceu uma semana depois de nascer o Santo Padre Cruz. Esta coincidência parece dizer-nos que Deus não queria apagar uma luz sem nos deixar outra acesa. Santo foi o nome que lhe puseram já aos 35 anos de idade e a fama de santidade foi sempre em aumento, até ao seu falecimento. Bispos, sacerdotes, pessoas de todas as categorias sociais o tinham por santo e como tal o veneravam. E esta fama cresceu a tal ponto que, depois da morte, o seu jazigo, no cemitério de Benfica, é visitado diariamente, por muitos fiéis, que lá vão cumprir promessas, pedir e agradecer graças, alcançadas de Deus, por sua intercessão.
É certo que, por vezes, se notam exageros a raiar pela crendice ou superstição. Claro está que o Padre Cruz não tem culpa daquilo que não é querido nem desejado por ele.
A sua figura inconfundível foi para o povo português católico, naquele tempo, uma âncora salvadora: levemente corcovado, um sorriso de inocência sempre no seu rosto fatigado, um ar de recolhimento habitual, perdido em Deus, na intimidade divina que o atraía a desprender-se dos bens terrenos, para os dar generosamente aos mais necessitados que encontrava. Mesmo nos tempos mais revoltosos e intolerantes, o Padre Cruz trajava sempre batina e roupão eclesiástico, e na cabeça, um largo chapéu, já gasto pelo uso. Assim o conheceu Portugal, assim se recordam dele, hoje, muitos que o conheceram. A presença do Padre Cruz em missões e tríduos pelas aldeias e vilas do país; o encontro do Padre Cruz nos comboios, nas ruas de Lisboa, nas Igrejas, nas cadeias, nos hospitais, sempre aliviando penas, confortando misérias, dando coragem aos timoratos e oferecendo certezas duma renovação cristã aos desalentados, era um espectáculo a que Portugal se habituara.
O seu programa de apostolado traçou-o, em 1925, numa carta escrita ao Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, na altura, o Sr. D. António Mendes Belo: "Há muitos anos que eu me sinto atraído, talvez por especial vocação da misericórdia de Deus Nosso Senhor, para ajudar espiritualmente os presos da cadeia, os doentes dos hospitais, os pobrezinhos e abandonados, a tantos pecadores e almas desamparadas que Nosso Senhor me envia ou põe no meu caminho. Tenho também grande consolação em ajudar os Párocos nos exercícios de piedade e mais encargos do seu ministério, indo por toda a parte levar, na medida das minhas forças, os socorros da religião a muitas pessoas a quem não é fácil chegarem por outra via. Ora tudo isto tenho sido, isto queria continuar a ser, por me parecer que é mais de honra de Deus".


Sem se queixar da velhice nem da doença, dizia: "Dou muitas graças a Deus por ter chegado a esta idade de 89 anos, sendo bastante doente desde há muito anos, e peço a tão Bom Senhor a graça de, no resto da minha vida, O amar sempre e fazer amar de muitas almas. Seja esta sempre a minha vontade: Coração de Jesus fazei que eu Vos ame e Vos faça amar".
Se o fim da sua vida preocupava os seus muitos amigos, este assunto a ele deixava-o tranquilo: "Bendito seja o nosso Bom Deus e sempre em tudo seja feita a sua santíssima vontade".Mas a morte aproximava-se, pacificamente, e veio a 1 de Outubro de 1948.

Beato, irmão e estudante


A necessidade de colaboradores naquela altura era muito grande! Realizada a congregação provincial em Junho, eleito de novo procurador a Lisboa e Roma, partiu para Portugal em 24 de Agosto. Encontrou-se com o rei D. Sebastião e depois foi para Roma, em Maio de 1569, para conseguir reforços para o Brasil. Com o apoio do Papa Pio V e de São Francisco de Borja, o superior geral da Ordem, o ardente Pe. Inácio conseguiu importante ajuda humana e material para retornar ao país de sua residência. Nomeado Provincial do Brasil, passando pelas Províncias jesuítas da Espanha e Portugal ao retornar de Roma, reuniu uma expedição de 73 religiosos, entre padres e irmãos; vários servidores seculares e mecânicos juntaram-se ao grupo, que chegou a cerca de 100 pessoas! Foi a maior expedição missionária jamais enviada por Portugal para as suas colónias.
Por causa da peste que assolava Lisboa e porque o Rei enviava ao Brasil o Governador, as embarcações demoraram a sair.Esperando os transportes para retornar ao Brasil, Inácio concentrou os religiosos na Quinta de Val de Rosal, ao sul do rio Tejo, evitando Lisboa, onde mais de 12 mil pessoas já haviam morrido, entre as quais 20 jesuítas. Nesse ambiente sadio do campo começou a preparar o batalhão de missionários para a campanha missionária, com estudos, orações, penitências...Seu zelo e ardor missionário empolgava aos quatro padres e aos seminaristas e coadjutores. Pelo exemplo e pela palavra preparava-os para se doarem cada vez mais ao Evangelho de Cristo. Falava-lhes do seu amado Brasil e do trabalho que os esperava. Respondiam com entusiasmo. O resultado da generosidade de todos esses jovens logo iria ser conhecido por todo o mundo católico...

Após interminável expectativa, em 5 de Junho de 1570, finalmente zarparam nas três naus da frota do Governador do Brasil, Dom Luiz de Vasconcelos, rumo à Ilha da Madeira, primeira parte da viagem. A 30 de Junho, o Provincial Inácio reembarcou na nau Santiago, cuja metade foi fretada por ele. Essa nau deveria se separar do grupo, passar pelas Canárias e seguir para o Brasil. Parte dos jesuítas ia na nau do governador, a capitania, e na terceira nau, a dos Órfãos, outro pequeno grupo, para dar assistência religiosa àqueles que nela viajavam e eram enviados ao Brasil para povoar a terra.
Pressentindo o perigo do ataque de piratas e com eles o martírio, antes de reembarcar na Ilha da Madeira, Inácio de Azevedo pediu voluntários da morte por Cristo, e não forçados. Alguns hesitaram e foram logo substituídos por candidatos das outras naus. Quando navegavam já a três léguas de La Palma, das Ilhas Canárias, dia 15 de Julho, surgiu uma frota de piratas huguenotes, comandados por Jacques Sore. Porque Inácio e seus companheiros eram religiosos, não podiam combater junto com os tripulantes, mas somente animar a defesa e cuidar dos feridos. A nau foi atacada e após breve luta dominada. Os huguenotes eram uma seita protestante calvinista, e vendo entre os tripulantes tantos missionários que iam evangelizar o Brasil, atacaram-nos, dizendo: "Mata, mata, porque vão semear doutrina falsa no Brasil" (LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, tomo II, p. 253).
Inácio foi ao encontro deles, com uma imagem de Nossa Senhora nas mãos, dizendo a alta voz: "Todos me sejam testemunhas como morro pela Fé católica e pela Santa Igreja Romana"( D. Maurício,sj. Beato Inácio de Azevedo e 39 companheiros, mártires, p.28). Ferido na cabeça e coberto de sangue, ele e a imagem que segurava, amparado pelos outros religiosos, que também professavam a própria fé, disse ainda: "Não choreis, filhos. Não chegaremos ao Brasil, mas fundaremos, hoje, um colégio no céu". Os huguenotes enfurecidos iniciaram então o massacre! Deram ao Pe. Inácio duas lançadas e tentaram tirar-lhe a imagem de Nossa Senhora, mas não o conseguiram em nenhum momento. Pe. Diogo de Andrade se abraçou então com ele, e ambos foram mortos a punhaladas e lançados ao mar. Comentando o ocorrido, Pe. Pero Dias escreveria um mês depois: "...não podiam mãos sacrílegas de hereges...tirar das mãos de tão forte capitão aquele tão forte escudo, com que andava mais unido, que com sua mesma alma, pois lhe tiraram a vida, não lhe arrancaram a imagem"( LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, tomo II, p. 595).

Somente um jesuíta não foi arremessado ao mar, Ir. Juan Sánches, pois fizeram dele o seu cozinheiro. Foi substituído por um sobrinho do capitão da nau, João, que desejava entrar para a Companhia de Jesus e se fez passar por jesuíta vestindo um hábito deles. Os huguenotes, pensando que ele era um dos religiosos, também o mataram. Completou-se assim o número de 40 mártires. Por isso é chamado de João "Adauto", que quer dizer "acrescentado". Com excepção de um, deixado para o dia seguinte, todos foram martirizados em 15 de Julho.

Manuel Rodrigues, irmão, estudante, nascido em Alcochete por volta de 1540, foi lançado vivo ao mar em 15 de Julho de 1570, ao largo das Ilhas Canárias. Martirizado com mais 39 sacerdotes, morreu com apenas 20 anos de idade e foi beatificado com os restantes a 11 de Maio de 1854 pelo Papa Pio IX.

In Página Causa dos Mártires do Brasil

O 3º Barão de Samora Correia


Carlos Ferreira Prego

Comendador da ordem de Cristo, proprietário e abastado lavrador em Alcochete, terra em que nasceu no ano de 1857, falecendo em Lisboa a 12 de Julho de 1902, sendo filho único do 2.º matrimónio de seu pai, o 2.º barão do mesmo titulo. Era extremamente benquisto na nossa primeira sociedade, pelo seu carácter bondoso, caritativo e esmoler. No seu testamento, datado de 5 de Abril de 1901, legou à Misericórdia de Alcochete a quantia de 20 000$00 de reis para a construção dum asilo de velhos e velhas, denominado Asilo do Barão de Samora Correia, que deveria ser construído no palácio e dependências que possuía na mesma vila. Deixou à mesma Misericórdia a Marinha e herdade da Bela Vista e Marinha Nova da Bomba, computada em 100 a 200 contos de reis, para com e seu rendimento sustentar e mesmo asilo. Em 1906 começou a tratar se da construção do edifício, sendo o arquitecto da câmara municipal encarregado de elaborar e respectivo projecto. O barão de Samora Correia casou a 29 de Junho de 1889 com D. Laura Rica. Título criado por D.Maria II por decreto de 30-01-1850e foi renovado por decreto de 12 de Dezembro de 1878.

O seu brasão consta: Escudo esquartelado: ao primeiro quartel as armas dos Ferreiras: Em campo vermelho quatro faixas de ouro; no segundo as dos Gemes: Em campo azul um pelicano de ouro ferindo o peito, e três filhos bebendo o sangue que sai das feridas; ao terceira as dos Pregos: Em campo verde uma ponte de três arcos de prata, sobre ela três torres do mesmo metal, e por baixo da pente agua da sua cor; orla também verde com oito ameias de prata; ao quarto as dos Fernandes: Em campo azul, uma torre de ouro com seis bombardas da sua cor, duas em baixo e quatro em cima.

por Manuel Amaral in Arqnet

15 maio 2006

O mais poderoso Alcochetano



Décimo quarto rei de Portugal, nono filho do infante D. Fernando e de D. Brites.
Filho adoptivo do príncipe D. João II, a quem votava afeição filial, foi feito, à morte do seu irmão D. Diogo, duque de Beja, senhor de Viseu, Covilhã e Vila Viçosa, governador do mestrado de Cristo, condestável do reino, e fronteiro‑mor de Entre-Tejo e Guadiana. O acidente que vitimou o herdeiro do trono (D. Afonso) conduziu a que fosse aclamado rei em Alcácer do Sal (27 de Outubro de 1495). Realizou três casamentos, o primeiro em 1497 com D. Isabel (viúva de D. Afonso), o segundo em 1500 com a infanta D. Maria de Castela e o terceiro em 1518, com D. Leonor, irmã de Carlos V.
Como político, teve sempre em conta o interesse nacional. Recebeu o governo exactamente no momento em que a Nação se preparava para alcançar a mais elevada projecção. Os vinte e seis anos do seu reinado conheceram grande actividade nos domínios da política interna, da política ultramarina e da política externa.

1) O poder que viera parar às suas mãos era forte, centralizado e o seu governo tendeu abertamente para o absolutismo. Com efeito reuniu cortes logo quando subiu ao trono, em Montemor-o-Novo e só mais três vezes, em 1498, 1499 e 1502, e sempre em Lisboa, o que é significativo. Nas cortes de Montemor-o-Novo, toma medidas no sentido duma centralização mais profunda de toda a administração pública: mandou confirmar todos os privilégios, liberdades e cartas de mercê, pelos principais letrados do reino que elegeu, reforma os tribunais superiores e toma uma política de tolerância em relação aos nobres emigrados por razões políticas e judeus castelhanos que D. João II reduzira à escravatura. Pelo decreto de 1496 obriga todos os judeus que não se quisessem baptizar a abandonar o país no prazo de dez meses, sob pena de confisco e morte. Pela lei de 4 de Maio de 1497, proibiu que se indagasse das crenças dos novos convertidos e, por alvará de 1499, dificulta a saída do reino aos conversos.
O objectivo era agradar aos Reis Católicos e ao mesmo tempo, evitar que os judeus continuassem a ser um todo independente dentro do reino. Pelas Ordenações Afonsinas, deixa de reconhecer individualidade jurídica aos Judeus; faz a reforma dos forais, com o fito económico de actualizar os encargos tributários e para eliminar a vida local; em 1502 saiu o regimento dos oficiais das cidades, vilas e lugares (Livro dos Ofícios); em 1509 o das Casas da Índia e Mina e em 1512 saiu o novo regimento de sisas. Por outro lado com D. Manuel inaugura-se o Estado burocrático e mercantilista, mandando cunhar índios, o português ou escudo de prata.

2) D. Manuel herdou o impulso dos descobrimentos. Partiu para a índia (8‑7‑1497) a armada de Vasco da Gama, que chegou a Calecut em 20‑5‑1498. Em 1500 uma armada comandada por Pedro Álvares Cabral, com o objectivo da Índia, rumou intencionalmente (opinião actual) para sudoeste, atingindo a Terra de Santa Cruz. D. Francisco de Almeida é nomeado vice-rei da índia, com o plano de manter o monopólio da navegação e do comércio para Portugal, tendo em terra pontos de apoio, para a carga da pimenta e reparação dos barcos. Lançou as bases do futuro «Império», que será obra de Afonso de Albuquerque. Apesar do comércio da pimenta a administração vivia em pleno défice (dinheiro gasto superfluamente ou em compra de produtos manufacturados e alimentares). Afonso de Albuquerque cria novas fontes de receita, pela conquista de territórios da índia que pagavam impostos.
3) Soube D. Manuel em matéria de política externa, usar de grande habilidade e diplomacia. No aspecto cultural, reconheceu o atraso do ensino universitário, mandando promover a reforma da universidade, estabelecendo entre 1500 e 1504 novos planos de estudo e uma nova administração escolar.

Ficha genealógica:

D. Manuel, nasceu em Alcochete, a 31 de Maio de 1469 e morreu em Lisboa, a 13 de Dezembro de 1521, tendo sido sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.
Era o último filho do infante D. Fernando (1433‑1470), duque de Viseu e irmão de D. Afonso V, e de sua mulher D. Beatriz (1430‑1506), filha do infante D. João e neta do rei D. João I. Do seu primeiro casamento, com a infanta D. Isabel (n. em Dueñas, a 2 de Outubro de 1470; f. em Saragoça, a 28 de Agosto de 1498), filha dos Reis Católicos e viúva do infante D. Afonso, filho de D. João II, nasceu:

1. D. Miguel da Paz (n. em Saragoça, a 24 de Agosto de 1498; f. em Granada, a 19 de Julho de 1500; sepultado no Convento de Santa Isabel, a Real, em Toledo).
Do segundo casamento, celebrado em 1501, com sua cunhada, D. Maria de Castela (n. em Córdova, 1482; f. em Lisboa, a 7 de Março de 1517; sepultada na Madre de Deus, donde foi trasladada para o mosteiro de Belém) nasceram os seguintes filhos:

2. D. João III, que herdou a coroa;

3. D. Isabel (n. em Lisboa, a 24 de Outubro de 1503; f. em Toledo, a 1 de Maio de 1539; sepultada em Granada, transferida para o Panteão do Escorial em 1574). Foi imperatriz de Espanha pelo seu casamento com Carlos V (1500‑1558) a mãe de Filipe II;

4. D. Beatriz (n. em Lisboa, a 31 de Dezembro de 1504; f. em Nice a 8 de Janeiro de 1538). Foi duquesa de Sabóia pelo seu casamento, em 1521, com Carlos III;

5. D. Luís (n. em Abrantes, a 3 de Março de 1506; f. em Lisboa, a 27 de Novembro de 1555). Foi 5.º duque de Beja, condestável do Reino a prior da Ordem Militar de S. João de Jerusalém, com sede portuguesa no Crato. Não casou, tendo de uma ligação amorosa com Violante Gomes um filho natural ou legitimado, D. António, Prior do Crato;

6. D. Fernando (n. em Abrantes, a 5 de Junho de 1507; f. na mesma vila, a 7 de Novembro de 1534; sepultado na Igreja de S. Domingos de Abrantes). Foi duque da Guarda a senhor de Trancoso, Alfaiates, Sabugal, Abrantes a alcaide-mor de Trancoso, Lamego a Marialva. Casou em 1530 com D. Guiomar Coutinho, 5.a condessa de Marialva, tendo geração sem descendência;

7. D. Afonso (n. em Évora, a 23 de Abril de 1509; f. em Lisboa, a 21 de Abril de 1540; sepultado na sé de Lisboa a trasladado para os Jerónimos). Foi cardeal do Reino (1517) a prelado de várias dioceses;

8. D. Maria (n. em 1511; f. em Évora, em 1513; sepultada no Mosteiro dos Jerónimos, transferida para Belém);

9. D. Henrique, cardeal-infante, que herdou a coroa;

10. D. Duarte (n. em Lisboa, a 7 de Outubro de 1515; f. em Lisboa, a 20 de Setembro de 1540; sepultado no Mosteiro dos Jerónimos). Foi duque de Guimarães, casou em 1537 com D. Isabel, filha de D. Jaime, 4.º duque de Bragança, nascendo do consórcio, entre outros filhos, D. Maria (n. em Lisboa, a 8 de Novembro de 1538; f. em Parma, a 8 de Julho de 1577), que casou em 1565 com Alexandre Farnésio, 3.º duque de Parma e Placência; D. Catarina (n. em Lisboa, a 18 de Janeiro de 1540; f. em Vila Viçosa, a 15 de Novembro de 1614), que, pelo casamento com D. João, 6.º duque de Bragança, foi em 1580 candidata ao trono de Portugal.

Do terceiro casamento de D. Manuel, com a infanta D. Leonor de Castela (n. em Lovaina, a 15 de Novembro de 1498; f. em Talaveruela, a 25 de Fevereiro de 1558), filha de Joana, a Louca, a de Filipe, o Belo, a portanto irmã de Carlos V, nasceram:

11. D. António (n. em Lisboa, a 9 de Setembro de 1516; f. de tenra idade; sepultado no mosteiro de Belém);

12. D. Carlos (n. em Évora, a 18 de Fevereiro de 1520; f. a 15 de Abril de 1521; sepultado no mesmo mosteiro);

13. D. Maria (n. em Lisboa, a 18 de Junho de 1521; f. na mesma cidade, a 10 de Outubro de 1577; sepultada na Capela de Nossa Senhora da Luz). Foi a celebrada infanta cujo nome é citado com frequência como protectora das letras a das artes. Morreu solteira.

Fontes:
Joel Serrão (dir.) Pequeno Dicionário de História de Portugal, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976
Joaquim Veríssimo Serrão História de Portugal, Volume III: O Século de Ouro (1495-1580), Lisboa, Verbo, 1978

A Vida Inicia, assim como esta História


Como? Começa ele por dizer. Não percebo bem... Gritou mais alto.
Alcochete, disse o mais velho. O quê? Alcochete?
Sim, sim... Maravilhosa essa terra. Sabiam que lá nasceu um Rei? Lembro-me de ler a Crónica da Viagem de Vasco da Gama e quando vejo as palmeiras lembro-me da passagem "Casas de branco, com altas palmeiras que fazem lembrar Alcochete", associava a Melinde. História Incrivel também, feita por homens incriveis.

Não, nem me passava pela cabeça. Mas quem foi o rei?
D. Manuel, o primeiro. Ahhh. Engraçado estava eu a pensar nos tempos de hoje. Uma Ponte ali à esquina, uma Reserva Natural, um Centro Comercial ou lá o que é aquilo.
Piada. Gosto tanto de ir a Alcochete, que penso seriamente ir para lá viver. Será que me habituo?

Gente afável e calorosa, vive nesta banda. Desconfiados alguns e também abrutalhados pelo o estado do trabalho duro que tiveram de enfrentar. Ainda hoje se fala da Fome. Brutos ficaram mas lapidando-se bem, como um diamante, vejo a pessoa cujo coração mostra, o amor à sua terra.
A fome, o sal, o toiro, o carvão, a sina de ser pobre, o abrir dos braços, a maneira de falar, o saber receber, não faltar comida para o seu amigo, a defesa da sua terra.

Assim me disseram.

Agora olho para trás e digo sem receio, sem o medo: Como é boa a minha vida na minha terra.

Caraças, pá... Como nunca me arrependi de ter nascido aqui, numa Maternidade que só uma memória dos Anos 80.

Vista Maravilhosa e arrebatadora, numa vila que cresce ao passo do manifesto, onde pessoa boa nasce e trabalha em prol dos homens.

Esta é a minha terra, este é o meu Blog que fala da minha terra e daqueles que me rodeiam.
... tanta coisa para falar e só agora comecei