11 julho 2006

Igreja Matriz (Parte 2)

Aqui neste post, tentei mostrar a redução de certas descrições sobre um dos mais importantes marcos históricos do nosso concelho. Assim, tentei também mostrar que as suspeitas de que a Igreja Matriz tenha sido anteriormente uma mesquita, não esteja provado totalmente.

Este texto que abaixo deixo, do IPPAR, é talvez a mais completa descrição (resumo) da nossa Igreja.
"No século XV, em pleno período de afirmação da dinastia de Avis, Alcochete era uma vila ribeirinha próspera. Dispunha de um paço real (muito provavelmente destruído aquando do terramoto de 1755) e era um dos mais importantes centros da Ordem de Santiago, cujos principais nomes, incluindo o seu mestre, aqui tinham casa e aqui residiam durante largas temporadas do ano. A actual igreja Matriz é o mais singular produto dessa favorável conjuntura e data dos meados da centúria, do período de mestrado de D. Fernando (1443-1470), irmão de D. Afonso V e pai de D. Manuel. Sobre o portal principal, as duas cruzes do seu duplo mestrado, de Avis e de Santiago, são uma marca inequívoca deste marco histórico e cronológico, anunciando, no presente como no passado, a tutela do empreendimento.Artisticamente, a igreja é um templo heterogéneo, cuja deliberada busca de monumentalidade não disfarça a vigência de correntes estéticas díspares, tão características do século XV português.O plano arquitectónico geral representa uma forma de arquitectura religiosa gótica tradicional, cuja origem recua aos primeiros exemplos do século XIII, mais precisamente à obra de Santa Maria do Olival, de Tomar, e aos ensaios mendicantes de Santarém e de outras cidades do reino. A opção por um corpo de três naves (neste caso com quatro tramos), separadas por arcarias longitudinais, e tecto de madeira, e por uma fachada principal ad triangulum, com portal inscrito num alfiz e uma rosácea axial a coroar o segundo andar, são características essenciais do Gótico paroquial nacional, tipologia arquitectónica e espacial que, partindo do século XIII, teve grande impacto nos séculos da Baixa Idade Média e foi ainda bastante utilizada nos alvores da modernidade.Mas, se esta é a impressão geral imediata, existe uma segunda tendência estética, menos perceptível, é certo, mas igualmente relevante. Ela testemunha-se, entre outros locais, no portal lateral Sul - a única parte do templo que foi assinada por um enigmático mestre A. (Afonso?). O recurso a capitéis de dois andares e, principalmente, o perfil cairelado do seu arco, são marcas inconfundíveis do tempo tardo-gótico de ascendência batalhina, o que prova como o projecto quatrocentista de Alcochete detinha recursos económicos suficientes para atrair homens formados no maior estaleiro do país - o Mosteiro da Batalha.Ao longo do século XVI, e seguindo uma tendência visível na maior parte do reino, o interior da igreja foi progressivamente enriquecido com capelas devocionais e funerárias. Das várias então construídas, resta a de Pero Lourenço e sua mulher, do lado Norte do tramo oriental do corpo, espaço quadrangular abobadado e com acesso através de um arco quebrado encimado pela cruz da Ordem de Cristo. A da família Mascarenhas, cuja lápide evoca ainda a sua memória, foi completamente destruída pelas reformas posteriores.No século XVII, a história deste templo conheceu um período importante, na sequência da descoberta de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, que logo se instituiu como uma das principais referências devocionais da comunidade. O projecto então concebido determinou a substituição da velha capela-mor gótica por um compartimento rectangular profundo, iluminado lateralmente e com espaço suficiente para integrar um retábulo monumental. Um documento prova que, em 1740, o estaleiro era dirigido por Carlos Mardel, mas, até ao momento, não se conhece suficientemente bem a natureza dos trabalhos por si desenvolvidos. Por essa altura, pensamos que as obras de arquitectura há muito estariam terminadas - existe a data de 1678 na parede exterior da capela-mor que poderá datar a sua conclusão - e que o projecto se resumia a dotar o interior das imprescindíveis realizações de talha (retábulo-mor proto-barroco ainda do século XVII) e de azulejo (grandes painéis alusivos à vida de Cristo e de São João Baptista) obras que datam, efectivamente da primeira metade do século XVIII."
Chegou há relativamente pouco tempo vinda de restauro, a primeira das quatro enormes pinturas atribuidas ao pouco conhecido pintor Barradas, que estão expostas na Capela-Mor da Igreja-Matriz. As telas representam quatro episódios da vida de João Baptista e depois da "cara lavada", o brilho da primeira tela chama a atenção ao que durante anos esteve escondido atrás do pó. Como não existe bela sem senão, descobriu-se que as dimensões das telas eram superiores e foram no passado vandalizadas.
Fontes: IPPAR

1 comentário:

Anónimo disse...

Meu caro amigo
Leio o seu blog com muito interesse.
Ao ler este seu artigo, quero completar com o seguinte:
"Chegou há relativamente pouco tempo vindo de restauração a primeira das quatro enormes pinturas atribuidas ao pouco conhecido pintor Barradas, que estão expostas na Capela-Mor da Igreja-Matriz. As telas representam quatro episódios da vida de João Baptista e depois da "cara lavada", o brilho da primeira tela chama a atenção ao que durante anos esteve escondido atrás do pó. Como não existe bela sem senão, descobriu-se que as dimensões das telas eram superiores e foram no passado vandalizadas DURANTE O RESTAURO EFECTUADO PELOS MONUMENTOS NACIONAIS, RECORTANDO 20 CM DE LARGURA E 30 DE COMPRIMENTO.

Também informo que a 2ª tela se encontra exposta e foi igualmente recortada.
Sugiro que utilize a palavra "restauro" e não restauração que hoje se encontra aplicada aos serviços de restaurantes e afins e tecnicamente usa-se o termo restauro.
Continue com este blog é algo de muito interessante para esta terra.
P.Carlos Russo