23 maio 2006

Um Pórtico que caiu em decadência

Antes de se construir o convento que deu nome à localidade, esta foi conhecida como Sabonha (também aparecendo designada como Sabona ou Saboya), chegando a ser uma das sedes do antigo concelho do Ribatejo, juntamente com Alhos Vedros.
Desde 1249, ano em que aparece documentada pela primeira vez (VARGAS, 2004, p.29) até aos inícios do século XVI, altura em que foi suplantada por Alcochete e por Aldeia Galega (actual Montijo), Sabonha foi a freguesia desta secção do antigo Ribatejo, estando simultaneamente vinculada à Ordem de Santiago.
Como lugar dominante, aqui se construiu uma primeira igreja, dedicada a Santa Maria, símbolo por excelência da autoridade da povoação sobre o território circundante. Infelizmente, dela pouco ou nada sabemos, para além do que contam as Visitações da primeira metade do século XVI e do que revelaram as escavações aqui efectuadas em 2004, conduzidas por Miguel Correia. As Visitações de 1512 e de 1553 elucidam-nos acerca da configuração da igreja. Assim, ela tinha planta de nave única, com cerca de 18m de comprimento, por 6 de largura, a que se associava um alpendre quadrangular à frontaria, capela-mor ao que tudo indica rectangular (de aproximadamente 7 por seis metros) e duas pequenas capelas laterais, que conferiam ao conjunto um aspecto de planta em cruz latina. Os focos de iluminação eram escassos, resumindo-se a frestas nas três capelas, e acedia-se ao interior por intermédio de três portas, uma aberta no alçado principal, "em pedraria de ponto", e outras duas nas faces laterais da nave. O interior possuía tecto de madeira, à excepção das duas capelas, que seriam abobadas. O retábulo-mor, em talha, tinha ao centro a imagem de Nossa Senhora com o Menino acompanhada por pinturas sobre tábua alusivas aos Reis Magos, Visitação, Concepção da Virgem e Natividade (IDEM, pp.34-39).
Apesar da relativa decadência da localidade, não terão cessado as obras, como se comprova pelo novo arco triunfal, realizado em 1528 por dois pedreiros de Palmela (IDEM, p.35). No entanto, dois anos antes, o "progressivo abandono e ruína" foi realçado pelo visitador e, em 1564, quer o alpendre, quer a casa do ermitão estavam já em ruínas (IDEM, p.41).Integrada definitivamente no concelho de Alcochete, Sabonha havia perdido, por essa altura, a importância que tivera durante os séculos finais da Idade Média. Tanto decaiu que, um século depois, em 1572, uma nova fundação religiosa (de frades franciscanos) ocupou o que restava da ermida e o novo fôlego imprimido à localidade foi de tal ordem que ela própria mudou de nome, passando a designar-se por São Francisco. O Convento foi dedicado a Nossa Senhora do Socorro e dele também já nada resta, à excepção do monumental pórtico barroco que marcava a entrada no antigo recinto. Este elemento patrimonial é a face visível do período de maior desafogo da instituição, verificada na segunda metade do século XVII e primeiras décadas do seguinte, "altura em que teve maior número de frades, foram ampliadas as instalações e não parece ter havido grandes problemas de rendimento" (IDEM, p.67).
O pórtico compõe-se de tripla arcada de volta perfeita, seccionada por pilares rectangulares, sendo os arcos encimados por frontões triangulares em forma de cortina e rematados os laterais por pináculos e o central por cruz. Nos tímpanos e nas faces que separam os frontões, existem pequenos painéis de azulejos azuis e brancos, saídos do ciclo lisboeta dos Grandes Mestres, a maioria dos quais retratando santos franciscanos, em especial Santo António, que ocupa o painel central.Da igreja, claustro, refeitório, celas dos frades, cavalariças e cisterna, tudo desapareceu. Em 1834, a comunidade foi extinta e, quatro anos depois, passou para a posse de um homem de Alcochete, conhecido como Chapéu de Ferro, cuja morte trágica a lenda conta ter ocorrido no antigo convento, quando procedia ao desmantelamento do edifício para venda de pedra como, de facto, veio a acontecer.
PAF, in IPPAR
Como a Câmara Municipal de Alcochete não está a prestar um serviço digno aos seus municipes, optei por colocar não qualquer foto a ilustrar a história do Convento de S. Francisco. Por mais que a História seja interessante, ao leitor apenas cabe imaginar como será as ruinas aqui descritas, pois nem no site da CMA, que nem se dignam a colocar o site de modo a que todos o visualizem, se enciontra uma foto sequer.

2 comentários:

Anónimo disse...

Os trabalhos arqueológicos revelaram a identificação do local onde se situa a antiga igreja de Santa Maria de Saboya.
Será que era oportuno a reconstrução da igreja de Santa Maria de Sabóia ?

Anónimo disse...

Enquanto a igreja de Santa Maria de Sabóia não é reconstruída, deveria ser possível a sua visita virtual a 3D.