29 março 2016

Estevão António de Oliveira




ESTEVÃO ANTÓNIO DE OLIVEIRA, nasce a 6 de Outubro de 1788 no Samouco – Alcochete. Negociante de gado, cria amizades com os grandes lavradores do Ribatejo, dado seu pai - José António Luís Rosa Oliveira ser administrador da Casa Agrícola do Conde de Azarujinha e seu grande amigo -, tornando-se também proprietário – ou foreiro - de terras do património do Infantado, que incluíam entre muitas outras, as do senhorio de Pancas. Não se sabe o ano, mas pensa-se que teria sido em princípios dos anos 30 do século XIX, uma vez que para aqui vieram pastorear as reses que comprara a Manuel da Silveira Brito ( Marquês de Ponte de Lima). 

Começou a correr toiros com o ferro EO, vindo a vender a António José Pereira Palha uma vacada brava da sua ganadaria em 1850.
A 31 de Julho de 1855, cedeu toiros para a corrida realizada na Praça de Toiros do Campo de Sant’Anna, em benefício do Asilo da Mendicidade, o que veio a repetir-se no primeiro domingo de Junho de 1862, na mesma praça.

- ESTEVÃO ANTÓNIO DE OLIVEIRA JÚNIOR, nasceu a 30 de Agosto de 1824, em Alcochete. Filho do anterior - do qual herda a ganadaria -, afora a José Ferreira Prego - 2º. Barão de Samora Correia - terras do “Senhorio de Pancas”, formando quatro grandes foreiros, designados por: Camarate, Quinta de Pancas, Paúl da Vala e Bracieira. A partir de 1863 começou a adquirir os domínios directos dos foros e, dentro de poucos anos, toda o “Senhorio de Pancas” lhe pertencia em posse plena, que lhe permitirá utilizar o ferro real, o que não sucedia com seu pai, que utilizava o “EO”.
As terras do “Senhorio de Pancas” estendiam-se por uma área enorme, de cerca de 12.000 hectares, e formavam assim uma das maiores concentrações de terras, ficando célebres, e estão largamente historiadas, as diversões venatórias que a corte portuguesa realizou através dos séculos, nas coutadas de Pancas. Aqui mandou fazer as grandes marinhas de “Vasa Sacos”, cuja produção média anual, andava por 14.000 moios de sal. Possuía também vastas herdades no Lavre, todas formando o conjunto da sua importantíssima casa agrícola.
Além de homem público de marcada posição e de grande prestígio nacional na sua época, foi, acima de tudo, um dos maiores lavradores de todos os tempos do Ribatejo, não só pela vastidão das suas terras, mas também como criador de toiros, por ter adquirido o ferro e divisa ( branco e escarlate, mudando depois para branco e verde) da ganadaria de “Pancas” - que ostentava uma coroa real por cima do “P” -, com origem em reses das “Reais Manadas” , mais tarde “Casa do Infantado”, nome pelo qual ficou conhecida a ganadaria fundada por D. Miguel I em 1830, que pastava em terras do “Senhorio de Pancas”, sendo neste ano acrescida com 50 vacas e 2 sementais de pura casta “Vazqueñha, de pelagem “jabonero”, oferecidas por seu tio D. Fernando VII de Espanha - gado este adquirido ao testamenteiro de Vicente José Vázquez, por créditos da coroa espanhola. Se bem que esta vacada tenha sido instalada nas terras de Salvaterra de Magos, e separada da ganadaria de “Pancas”, o ferro “P” absorveu também esta vacada. Após as Guerras Liberais, com início em 1831 e fim em 1834 , e instaurado o regime liberal e após a assinatura da convenção de Évora Monte que obrigou o ”rei toureiro”- e toureiro porque foi valente cavaleiro, toureiro amador e forcado, além de ganadeiro e grande aficionado - a exilar-se, embarcando em Sines na tarde de 6 de Junho de 1834, os seus bens foram confiscados pelo vencedor, seu irmão D. Pedro IV, e a ganadaria de casta espanhola dividida no ano de 1834 por quem melhor o tinha servido: Marquês de Belas e Comendador Dâmaso Xavier dos Santos, os quais, a venderam em lotes mais ou menos volumosos aos lavradores da região de Samora e Alcochete. 
Dâmaso Xavier dos Santos, alienou a sua parte a diversos criadores, entre eles Manuel da Silveira Brito (Marquês de Ponte de Lima), tendo este por sua vez vendido a sua parte - mas já com sangue “vazqueñho” misturado com “toiros da terra” - aos ganadeiros: Conde de Sobral, Barão de Salvaterra de Magos, Marquês de Vagos, Máximo da Silva Falcão, João Veloso Horta e Estevão António de Oliveira (pai). O sangue “vazqueñho” fica, pois, disperso e mais ou menos cruzado com reses portuguesas.
Estevão António de Oliveira Júnior, apurando-a, correu” toiros Pancas” em Portugal e Espanha nos anos de 1859 a 1874, chegando mesmo a coexistir com a do pai, Estevão António de Oliveira. Entrou por diversas vezes em corridas-concurso na praça do Campo de Sant’Ana com as de Rafael José da Cunha e João de Sousa Falcão, tendo saído sempre vencedora. Eis algumas das corridas efectuadas em Portugal com toiros deste ganadeiro: 
- 15 de Abril e 29 de Abril e 4 de Setembro de 1859; 12 e 27 de Março e 12 e 26 de Agosto de 1860; 3, 6 e 10 de Abril e a 2 de Junho de 1862, todas na Praça Campo Snt’Ana. Quase todos os toiros saltaram a Barreiro, um deles, com um salto chegou à terceira fila de um sector, e outro saltou atrás do bandarilheiro José Cadete, que o colheu, deixando-o em mau estado. Os seus toiros foram sempre muitos apreciados em Espanha, chegando num espaço de 10 anos a serem lidados 50 por temporada, pelo que aqui damos uma pequena amostra: 
- 13 toiros a 19 de Agosto de 1866 em Toledo e a 26 de Janeiro, 26 de Março, 6 de Abril, 4 e 11 de Maio de 1862 na antiga praça de Madrid ( inaugurada a 30 de Maio de 1754). Em 1833, é substituída a parte de madeira por alvenaria e demolida em Agosto de 1874, surgindo a 4 de Setembro deste ano, a famosa praça de Madrid, conhecida pela «carretera de Aragón» com 13.200 espectadores, que dura até 1934. A 21 de Outubro de 1934, é inaugurada a actual “Monumental” Praça de Toiros de “Las Ventas”, cujo redondel tem 60 metros de diâmetro e a com capacidade actual de 22.500 lugares sentados.
O matador Salvador Sanchez y Povedano “Frascuelo”, gostava de tourear os toiros “Pancas” por serem muito bravos e de grande corpulência, duros e resistentes, chegando com grande poder até à morte suprema. Um toiro seu , de nome "Cortiço", corrido na “Monumental” de Madrid a 11 de Março de 1862, recebeu 20 "varas", mantendo nobreza e casta até à morte, coisa nunca vista até então. Numa outra e, novamente nesta praça, outro toiro feriu gravemente 3 matadores, tendo por isso alguns toureiros não mais lidar toiros “Estevão”. Para tal, chegou a celebrar-se uma escritura através da qual se impunha uma multa de 5 mil réis a quem lidasse toiros tão bravos, apesar da oposição de “Frascuelo” que não teve outro remédio se não cumprir o decidido. 
Juntamente com os de Rafael José da Cunha, os toiros “Estevão de Oliveira”, tornaram-se presença habitual na velha praça de Madrid, o que prova a sua qualidade. E tanto assim é que, António José Pereira Palha, pai de José Pereira Palha Blanco, quando começa a pensar criar a sua ganadaria em 1848, para conseguir bons reprodutores, a escolha incide sobre o criadores de reses descendentes dos famosos Vazqueños reais: Estevão António de Oliveira – pai de Estevão António de Oliveira Júnior -, João de Sousa Falcão e João Veloso Horta. É a Estevão António de Oliveira, e a estes lavradores, que António José Pereira Palha compra uma vacada brava, com reses da “terra” cruzadas com gado “vasqueñho”, vindo em 1871, seu filho José Pereira Palha Blanco a comprar a Estevão António de Oliveira Júnior, reses da mesma casta, mas já pura.
Durante alguns anos, a ganadaria esteve parada para uma nova fase de aperfeiçoamento, mas, mesmo assim, Estevão de Oliveira recebia propostas para remeter toiros para a nova praça do Campo Pequeno. Aos convites, respondia invariavelmente: «Por enquanto só tenho “cautelas” de 25 réis, e essas não podem ainda ser apresentadas em Lisboa. Distribuas pela província... Mais tarde! Mais tarde... lá irão!». Será o seu filho (Estevão Augusto de Oliveira), que em 1897 reaparecerá com os toiros “Pancas” no Campo Pequeno.
Foi-lhe dado o título honorífico de Comendador por D. Maria II. Em relação à atribuição desta Comenda – da “Conceição”, presumindo-se que se refira à Ermida de N. Sª. da Conceição em Alcochete, mandada construir pelo navegador Tristão da Cunha no século XVII -, dizem alguns historiadores que a mesma foi atribuída por D. Luís I. 
Leonor do Carmo Estevão Oliveira Sena da Silva, bisneta, afirma que foi D. Maria II, só que seu bisavô, na cavalgada para a Herdade de Pancas - quando da recepção a D. Maria - a perdeu. Mais tarde, depois de contado o sucedido, a monarca ofereceu-lhe outra. 
Quando da visita de D. Maria a Alcochete - para conhecer as suas propriedades - e, tendo viajado no vapor real “Dragão” com seu filho D. Luís – tinha este 9 anos, que mais tarde virá várias vezes a Alcochete para caçar nas terras de “Pancas” -, foi recebida no desembarco – pensa-se que nas “escadinhas” ou “rampa” no Largo da Misericórdia - pelo Comendador Estevão de Oliveira montado a cavalo e ladeado pelos campinos da casa, seguindo a comitiva para o monte de Pancas. 
Foi muitas vezes deputado, ora por Montemor-o-Novo, ora por Évora. Presidiu como Decano à Junta Preparatória em 1889 e 1890. Em 1891 entrou na lista quíntupla para os cargos de Presidente e Vice – Presidente. Foi depois suplente à Presidência, que chegou a exercer algumas vezes, tendo sido também durante alguns anos Tesoureiro da Câmara dos Deputados. 
Citamos dois parágrafos de uma conferência proferida pelo alcochetano Sr. António Lopes Lourenço, na Casa do Ribatejo, em 12 de Outubro de 1950:-
-- «Os deputados recebiam um subsídio, que mais tarde, em 1892 foi extinto. “Estevão” era um tesoureiro a valer, não confiando as suas funções a qualquer funcionário. Não queria ajudantes. Não fazia discursos na Câmara. Mais obras do que palavreado. Nada de questiúnculas. Todo ele era paz, tranquilidade e sossego. No entanto, chegado o fim do mês, o nome do deputado alcochetano andava de voz em voz para se ouvir esta frase: “Hoje fala o Estevam d’ Alcochete!” É que estava chegado o dia de pagamento do subsídio e não faltava ninguém a sublinhar com apoios a oratória do deputado Estevão de Oliveira, que pagava sempre em lindas moedas de cinco mil réis. Eram vinte a cada colega. E todas novinhas em folha!»

Texto e Foto de José Barrinha Cruz, Facebook

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