27 julho 2007

Património VI - Nucleo Antigo Alcochete



Descrição

Núcleo de origem medieval organizado em torno da Praça Pública (actual Largo da República), local onde se localizavam os Paços do Concelho e o Pelourinho. Do largo de planta quadrangular partem artérias no sentido NO, E., SE. e SO. A expansão quinhentista e seiscentista da vila encontra-se associada ao traçado da Rua Direita (actual Rua Comendador Estevão de Oliveira) e a alguns solares na envolvente do núcleo antigo, cujas cercas vão marcar o traçado das ruas. A Rua Direita (actual Rua Comendador Estevão de Oliveira) ocupava a frente ribeirinha NO., unindo o Largo da Misericórdia ao Largo Miguel Bombarda (actual Largo António dos Santos Jorge) e ligando-se à Praça Pública (actual Largo da República) através da Rua do Paço e da Rua do Talho. A expansão oitocentista realizou-se para NO., na zona denominada Barrocas do Mar, onde, após o aterro da área entre os dois promontórios, foi construído o Bairro das Barrocas, com traçado regular composto por sequência de quarteirões estreitos e paralelos, perpendiculares à frente ribeirinha e à Rua Direita (actual Rua Comendador Estevão de Oliveira). A expansão realizou-se também, paralelamente ao rio, no sentido SO., pela Rua João Gonçalves, Rua e Largo do Troino, ao longo do Rossio (actual Largo Barão de Samora Correia) e da Rua da Praia (actual Avenida D. Manuel I), e prolongando a área edificada até ao Largo Marquês de Soydos onde se localiza o Solar da Quinta da Praia das Fontes . A fase de expansão novecentista caracterizou-se pela justaposição de uma área com traçado ortogonal para N. e E.-NE. do Largo de S. João e da envolvente da Igreja Matriz limitada pelo Largo da Feira. O traçado do núcleo antigo estruturou-se em torno da Praça Pública (actual Largo da República) a partir da qual saem os eixos de ligação: ao Terreiro de S. João (actual largo de S. João) e à Igreja Matriz para E.; à Rua Direita (actual Rua Comendador Estevão de Oliveira) para N.; e ao Rossio (actual Largo Barão de Samora Correia) para SO. Envolvia o núcleo antigo, no sentido SO.-NE., um eixo que partia do Largo Coronel Ramos da Costa, pela Rua João de Deus, Largo D. Luís Pereira Coutinho (actual Largo da Revolução), até ao Terreiro de S. João, (actual Largo de S. João). A partir do séc. 19, estruturou-se um novo eixo de circulação, a partir do Largo da Misericórdia rodeando o Bairro das Barrocas, passando pela R. do Norte, Largo da Cova da Moura e Largo Moysém (actual Av. dos Combatentes da Grande Guerra). Os largos, elementos polarizadores da malha urbana da vila de Alcochete, encontram-se associados à presença de solares. Como espaço fundacional, a Praça Pública (actual Largo da República), de forma quadrangular, constituía o centro do núcleo, onde se localizavam os Paços do Concelho e o Pelourinho e onde actualmente existe um solar setecentista, cujo proprietário original é desconhecido. Afastados do centro, o Terreiro de S. João (actual Largo de S. João) e o Largo da Misericórdia, marcam os limites quinhentistas. O Largo de S. João, de forma trapezoidal, ocupa o espaço fronteiro à Igreja Matriz ; aqui se localizavam o antigo Solar dos Pereiras (actual edifício dos Paços do Concelho) e o desaparecido Solar dos Condes de Unhão Teles de Menezes. Na frente ribeirinha, o Largo da Misericórdia, de forma poligonal, é delimitado pela Igreja da Misericórdia de Alcochete e pelo Solar dos Netos. O Largo Miguel Bombarda (actual Largo António dos Santos Jorge), de forma poligonal, resulta da intercepção da Rua Direita (actual Rua Comendador Estevão de Oliveira) com o solar quinhentista dos Monizes Lusignano (actual edifício da Sociedade Imparcial 15 de Janeiro de 1898) e o Bairro das Barrocas, construído no aterro realizado durante o século 19 entre os dois promontórios, afastando a frente ribeirinha que definia o lado N. da Rua Direita (actual Rua Comendador Estevão de Oliveira). O Largo do Troino, de forma triangular, resulta da expansão do centro urbano para SO. - limitada a SE. pelo solar provavelmente quinhentista onde se encontra instalada a Biblioteca Municipal - no sentido do Largo Barão de Samora Correia, o antigo Rossio, onde, no séc 19, a construção do solar de João Ferreira Prego, 1º Barão de Samora Correia (actualmente Asilo Barão de Samora Correia), iniciou a ocupação deste espaço como frente urbana. O actual Largo Marquês de Soydos, de forma triangular, resultou da doação do terreno fronteiro à Quinta da Praia das Fontes que o 5º marquês de Soydos fez ao município, com a condição de aí ser criado um passeio público. Os largos João da Horta, de forma poligonal, e Coronel Ramos da Costa, de forma triangular, constituem uma unidade espacial, limitada a SE., no seguimento da Rua João de Deus o no sentido do eixo do núcleo antigo que conduzia a Aldeia Galega (actual Montijo). Aqui se localizam o solar da família Ramos da Costa e da família António da Cruz. O Largo D. Miguel Pereira Coutinho (actual Largo da Revolução), de forma triangular, resulta da confluência da Rua João de Deus, onde se localiza o solar da família Dias da Cruz, com a Rua António Maria Cardoso e o Terreiro de S. João (actual Largo de S. João). Os largos Almirante Gago Coutinho, onde se encontra a Igreja Matriz ; da Feira, no limite E.; e o Largo da Cova da Moura, no Bairro das Barrocas, resultam da expansão urbana novecentista, não estando associados à preexistência de solares. O tecido parcelar é predominantemente composto por lotes de configuração irregular, nas áreas de origem medieval, quinhentista e seiscentista, e por lotes de forma quadrangular nos períodos de expansão oitocentista e novecentista. O Bairro das Barrocas é caracterizado por lotes quadrangulares, alguns dos quais actualmente emparcelados. Os quarteirões a E./NE. da Igreja Matriz apresentam forma quadrangular, integrando nos seus logradouros pátios. O espaço edificado é envolvido pela presença polarizadora da arquitectura religiosa: a Igreja Matriz a E.; Igreja da Misericórdia a NO; e a Capela de Nossa Senhora da Vida a N. A arquitectura é na sua maioria residencial, com adaptações comerciais e de serviços. A volumetria varia entre um e quatro pisos, predominando as casas com um e dois pisos. Nas áreas de expansão oitocentista e novecentista (Bairro das Barrocas, Rua do Rato, actual Av. 5 de Outubro, Rua João Gonçalves, Rua Beato Manuel Rodrigues, Rua do Norte), assinalam-se lotes habitacionais de casas térreas em banda. O armazém constitui outro tipo com alguma representatividade, definido por construção térrea, de planta predominantemente rectangular, com telhado de duas águas e empena na fachada voltada para a rua. Destaca-se a presença de casas que apresentam a empena na fachada principal. Os tipos dominantes referem-se à casa térrea e à casa com dois pisos. De entre estas, salienta-se o revestimento azulejar de algumas fachadas, a decoração das platibandas, com balaustradas e peças cerâmicas (estátuas, jarrões, pinhas) e a guarnição das janelas de sacada com varandins, em ferro forjado e fundido, também aplicado nas bandeiras e postigos das portas: Casa dos Bustos ; Casa Moysém; Vivenda Matilde . As casas com dois ou mais pisos conjugam frequentemente a utilização comercial do piso térreo com a habitacional dos pisos superiores. O solar constitui um tipo caracterizado pela conjugação da casa com dois pisos e o pátio, armazém e estábulo, destacando-se pela sua volumetria, implantação, ritmo e decoração dos vãos: Casa no Largo do Troino (Biblioteca Municipal), antigo Solar dos Patos (actual Centro Paroquial Padre Cruz) , antigo Solar dos Netos , Solar dos Monizes Lusignano (actual edifício da Sociedade Imparcial 15 de Janeiro de 1898), Antigo Solar dos Pereiras (actual edifício dos Paços do Concelho), Solar dos Soydos (actual Quinta da Praia das Fontes). O conjunto integra duas áreas verdes públicas: o antigo Passeio Público, constituído pelo Rossio (actual Largo Barão de Samora Correia) e uma área de 14500m2, doada ao município em 1875 por D. António Luís Pereira Coutinho, para construção de um passeio público (actual Largo Marquês de Soydos); e outra, no Largo Almirante Gago Coutinho, do lado N. da Igreja Matriz (1956).

Descrição Complementar


A estatuária está representada de forma significativa: busto do Padre Cruz, erigido em 1953, localizado no Largo de S. João, actualmente no Centro Paroquial de Alcochete, de autor desconhecido; estátua do Padre Cruz, no Largo de S. João, inaugurada em 1969, da autoria de Luís Valdêz Castelo Branco; estátua do rei D. Manuel I, no largo Marquês de Soydos, inaugurada em 1970, da autoria de Vasco Pereira da Conceição; busto de Carlos Ferreira Prego, 3º Barão de Samora Correia, no largo com o mesmo nome, erigido em 1957, de autor desconhecido; escultura de homenagem ao Forcado, no Largo João da Horta, erigida em 1989, da autoria de Sérgio Stichini; estátua do Salineiro, na Praça da República, implantada em 1985, da autoria de Francisco Simões. Quanto ao mobiliário urbano, destaca-se o Coreto integrado no jardim lateral à Igreja matriz, inaugurado em 1956.


Época Construção
Séc. 13 / 15 / 16 / 19 / 20


Cronologia


1224 - D. Sancho II doou a póvoa de Alcochete à Ordem de Santiago;
1249 - criação, no termo de Alhos Vedros, da paróquia de Nossa Senhora da Sabonha, que incluía as póvoas de Aldeia Galega e Alcochete;
séculos 14 / 15- Vasco Gil Moniz mandou edificar o solar dos Monizes de Lusignano, actual edifício da Sociedade Imparcial 15 de Janeiro de 1898; D. João I tinha um paço real em Alcochete. O infante D. João, mestre da Ordem de Santiago, concedu a Alcochete o estatuto de sede da Ordem. D. João II estabeleceu residência em Alcochete, elevando-a a vila. O infante D. Fernando estabeleceu-se em Alcochete. Construção da Igreja Matriz; 1469 - nascimento em Alcochete do futuro rei D. Manuel I; século 16 - 1515- D. Manuel I atribuiu carta de foral a Alcochete - A nobreza instala-se em Alcochete construindo aqui os seus solares; desta época datam o Solar dos Netos, reconstruído sobre fundações do século 15, o antigo Solar dos Patos (actual Centro Paroquial de Alcochete), o Solar dos Pereiras (actual edifício dos Paços do Concelho), o desaparecido Solar dos Condes de Unhão Teles de Menezes, o solar onde se encontra instalada a Biblioteca Municipal; 1547 - D. Sebastião concede aos oficiais que trabalhavam nos estaleiros de construção naval em Alcochete direitos iguais aos que trabalhavam na Ribeira das Naus; 1563 - edificação da Igreja da Misericórdia; 1577 - Afonso Figueiredo mandou edificar a Ermida do Espírito Santo; século 17- realizou-se a primeira grande campanha de obras na Igreja Matriz. Fernão Patto Correia mandou construir a Casa dos Pattos (Solar dos Soydos); século 18 - Jacôme Ratton estabeleceu-se na Barroca D'Alva, promovendo o desenvolvimento económico da região; século 19 - construção, em madeira, de ponte-cais de apoio ao transporte fluvial de bens e pessoas entre Alcochete e Lisboa; construção do Bairro Novo, no aterro da zona denominada Barrocas do Mar; - construção do Bairro Moisém 1875; - D. António Luís Pereira Coutinho doou à Câmara Municipal uma área de 14000m2, destinada a Passeio Público; 1837 - João Ferreira Prego, 1º Barão de Samora Correia, mandou construir um solar, em terrenos adquiridos à Câmara Municipal; 1866 - inauguração da Escola Primária Conde de Ferreira; 1895 - o concelho de Alcochete é anexado ao de Aldeia Galega (Montijo), por decreto de 26 de Setembro; 1898 - restauração do município, por decreto de 15 de Janeiro; século 20 - construção da ponte-cais em betão



Tipologia

Núcleo urbano ribeirinho, organizado a partir de póvoa régia medieval, definido por sequência de quarteirões mais ou menos irregulares em torno da Praça Pública e afastado da Igreja Matriz, localizada a E., no Terreiro de S. João. Expansão paralela à margem do rio, em parte já derivada da implantação, nos séculos 15 / 16, da Ermida do Espírito Santo e da Igreja Misericórdia. O traçado da Rua Direita, tangencial ao núcleo fundacional, com orientação O.-E., liga o Largo da Misericórdia ao Terreiro de S. João. Enquanto elementos polarizadores, os solares encontram-se associados a largos e definem o traçado de eixos secundários. A expansão urbana da vila, que ocorre durante o século 19, ultrapassa os antigos limites no sentido NE.-SO., ao longo da Rua da Praia, com construção de armazéns, e do Rossio, com habitações. Para N., a expansão fez-se com a construção do Bairro das Barrocas, constituído por uma estrutura de arruamentos, paralelos entre si e perpendiculares à frente ribeirinha. Nesta época, a transferência dos Paços do Concelho da Praça Pública para o Terreiro de S. João criou um novo centro da vila, a partir do qual se desenvolveu a expansão do século 20. O crescimento urbano verificado a partir da primeira década do século 20, obedecendo a uma estrutura viária ortogonal, desenvolve-se a N. do Terreiro de S. João e na envolvente da Igreja Matriz, caracterizada por casas de dois pisos, nas quais se destaca a profusa decoração novecentista de algumas fachadas e casas térreas. Fortes afinidades tipológicas com outros núcleos antigos da margem S. do estuário do Tejo, tais como o Seixal e o Barreiro.


Dados Técnicos

Paredes autoportantes, em adobe, alvenaria de pedra, alvenaria mista, alvenaria de tijolo; reboco de cal e areia, reboco de cimento; pontual revestimento azulejar das fachadas; janelas de duas folhas; pavimentos calcetado com pedra calcária e empedrado

Materiais


Pedra: calcário conquífero. Terra. Cerâmica: tijolo, telha de meia cana, de aba e canudo, telha marselha. Ferro forjado, ferro fundido.

Observações


A delimitação proposta nesta ficha para o Núcleo Antigo de Alcochete inclui a delimitação de núcleo antigo definida no Plano Director Municipal (PDM), acrescentando todos os quarteirões a E. e NE. da Igreja Matriz, completando também a frente da Av. 5 de Outubro. A delimitação do PDM data dos anos 90 do séc. 20, e materializa uma proposta de centro histórico elaborada nos anos 80, no Plano Geral de Urbanização da vila, que não chegou a ser aprovado. Não obstante, a população de Alcochete, apesar de conhecer bem os limites da "vila antiga" e da "vila moderna", associa a expressão "centro histórico" não à delimitação actual, mas à zona das igrejas Matriz e da Misericórdia e ao Bairro das Barrocas, chegando, muitas vezes, a afirmar ser este bairro oitocentista a zona mais antiga da vila, mostrando uma representação espacial claramente distinta dos limites elaborados pelos técnicos. A origem árabe do topónimo "Alcoxete" parece comprovada, sendo o plural da palavra "Alcocha", que significa "forno" e que é atestada pela referência à existência na região de fornos de cerâmica e de cal, em virtude da abundância de combustível lenhoso. No entanto, a tradição oral e escrita da fundação árabe do povoado, carece de dados que a comprovem. Festividades locais: o Círio dos Marítimos ao santuário de Nossa Senhora da Atalaia realiza-se na Páscoa; esta celebração, com origem conjectural no século 16, está associada às classes profissionais ligadas à construção naval, pesca e transporte fluvial, actividades com tradição histórica em Alcochete. Procissão da Nossa Senhora da Vida em Agosto: festa dedicada a Nossa Senhora da Vida, que tem a sua origem no século 17, por iniciativa da irmandade de Nossa Senhora da Vida, reorganizada por Nuno Álvares Pereira Velho de Morais, tendo como centro a Capela de Nossa Senhora da Vida, antiga Ermida do Espírito Santo. Na procissão, que tem lugar em Agosto, durante as festas do Barrete Verde e das Salinas, a imagem de Nossa Senhora da Vida chega pelo rio, transportada numa embarcação tradicional. Festas do Barrete Verde e das Salinas, realizadas desde 1944, ocorrem durante a segunda semana do mês de Agosto: festa de carácter regionalista, invoca as figuras do forcado, do campino e do salineiro, através de decorações alusivas, que enfeitam as ruas da vila. As largadas de toiros nas ruas da vila são a principal atracção. Feriado municipal: 24 de Junho, dedicado a S. João Baptista; em Alcochete, região marcadamente rural, as festividades prolongavam-se por três dias, durante os quais, a par da componente cristã, aconteciam manifestações populares de origem pagã, como, por exemplo, o acender de fogueiras nos largos da vila, nas noites de arraial.

Autor e Data
Filipa Ramalhete / Francisco Silva 2003

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