02 agosto 2006

O Sal


“Não se sabe ao certo quando é que a actividade salineira terá surgido, neste concelho mas supõe-se que na dominação romana já existisse, pois a indústria de salga do peixe e a preparação do “garum” encontrava-se em franco desenvolvimento em toda a margem sul do rio Tejo.
Os árabes também se ocuparam nesta actividade, tendo deixado testemunhos através dos utensílios de trabalho – diversas pás, as adufas e o bombeiro.
Segundo documentos antigos, os Alcochetanos tinham profissões de escudeiros, marnoteiros, carreiros, mareantes, barqueiros, sapateiros, cavadores e feitores.
A partir do séc. XV, a povoação adquiriu maior importância e tornou-se centro abastecedor de Lisboa. A população local contribuiu bastante para o projecto dos Descobrimentos, tendo o seu sal abastecido as caravelas e naus que partiram para o Oriente, onde foi utilizado como moeda de troca.
O sal foi sempre um produto importante nesta zona e era extraído em grande quantidade. Durante o Séc. XVII, Alcochete assistiu a um grande desenvolvimento da exploração do sal. Após um período de menos actividade, no sec. XVIII Alcochete voltou a atrair a nobreza, pois ai se instalou o comerciante francês Jacome Ratton que, entre muitas inovações nos diversos sectores económicos, introduziu novos mecanismos para movimentar a água das salinas, que se estendiam ao longo das margens da Ribeira das Enguias.
Durante o séc. XIX e a primeira metade do sec. XX, Alcochete voltou a ser considerado um importante centro produtor de sal, desenvolvendo-se economicamente e enraizando as suas tradições.
No entanto, na década de 50 deste século, diversos factores levaram à diminuição da produção de sal no nível nacional, situação que também atingiu Alcochete, tais como: a auto-suficiência de países tradicionalmente consumidores do nosso sal; o enfraquecimento da navegação à vela que o transportava como lastro; o aparecimento de sistemas de refrigeração e o seu emprego nos navios da pesca de bacalhau (os principais consumidores de sal). Assim, passou-se rapidamente de pais exportador para a situação de importador.
Apesar disso, o sal como qualquer actividade económica dominante num determinante lugar, tem concedido, ao longo de gerações, uma identidade cultural à população ribeirinha deste concelho, embora este produto, que pelo seu valor e simbolismo chegou a ser denominado de “ouro branco”, não tenha enriquecido quem lhe dedicou toda a sua vida (os salineiros eram uma classe simples e carenciada economicamente).
Os salineiros habitavam, maioritariamente, no Bairro das Barrocas, juntamente com os Pescadores. São considerados a figura mais importante do concelho, devido à enorme importância que as marinhas de sal tiveram noutros tempos.”

Transcrição do livro “Nos Caminhos do Sal”

3 comentários:

Unknown disse...

As adufas serão um vestígio da presença árabe em Alcochete, mas não estou a ver como se relacionarão com a actividade salineira.
Adufa, do Ár. adduffa, é referente para folhas de madeira que tapam as janelas, portas, comportas, etc.

Alcochetano disse...

Caro João, Obrigado pelo alerta. Vou tentar avançar com mais informação sobre este "instrumento". Obrigado pelos seus comentários.

Um abraço

Anónimo disse...

Caro pesquisador do Blog sobre Alcochete,

Soube que o meu bisavô era primeiro tenente do Posto da GNR Aldeagalega mas era fiel do Republicano porque pertenceu a comissão de luta contra do regime monarquico.

Preciso a vossa ajuda a encontrar um industrial de trigo ou farinha do local de Samouco ano 1915 porque foram assalto por causa fome e conflito da política económica e o meu bisavô defendeu os povos. recebeu uma medalha de honra.

Consegue a encontrar um industrial (activo ou abandono) depois mande um foto para o seu blog.

Cumprimentos, Amílcar