A necessidade de colaboradores naquela altura era muito grande! Realizada a congregação provincial em Junho, eleito de novo procurador a Lisboa e Roma, partiu para Portugal em 24 de Agosto. Encontrou-se com o rei D. Sebastião e depois foi para Roma, em Maio de 1569, para conseguir reforços para o Brasil. Com o apoio do Papa Pio V e de São Francisco de Borja, o superior geral da Ordem, o ardente Pe. Inácio conseguiu importante ajuda humana e material para retornar ao país de sua residência. Nomeado Provincial do Brasil, passando pelas Províncias jesuítas da Espanha e Portugal ao retornar de Roma, reuniu uma expedição de 73 religiosos, entre padres e irmãos; vários servidores seculares e mecânicos juntaram-se ao grupo, que chegou a cerca de 100 pessoas! Foi a maior expedição missionária jamais enviada por Portugal para as suas colónias.
Por causa da peste que assolava Lisboa e porque o Rei enviava ao Brasil o Governador, as embarcações demoraram a sair.Esperando os transportes para retornar ao Brasil, Inácio concentrou os religiosos na Quinta de Val de Rosal, ao sul do rio Tejo, evitando Lisboa, onde mais de 12 mil pessoas já haviam morrido, entre as quais 20 jesuítas. Nesse ambiente sadio do campo começou a preparar o batalhão de missionários para a campanha missionária, com estudos, orações, penitências...Seu zelo e ardor missionário empolgava aos quatro padres e aos seminaristas e coadjutores. Pelo exemplo e pela palavra preparava-os para se doarem cada vez mais ao Evangelho de Cristo. Falava-lhes do seu amado Brasil e do trabalho que os esperava. Respondiam com entusiasmo. O resultado da generosidade de todos esses jovens logo iria ser conhecido por todo o mundo católico...
Após interminável expectativa, em 5 de Junho de 1570, finalmente zarparam nas três naus da frota do Governador do Brasil, Dom Luiz de Vasconcelos, rumo à Ilha da Madeira, primeira parte da viagem. A 30 de Junho, o Provincial Inácio reembarcou na nau Santiago, cuja metade foi fretada por ele. Essa nau deveria se separar do grupo, passar pelas Canárias e seguir para o Brasil. Parte dos jesuítas ia na nau do governador, a capitania, e na terceira nau, a dos Órfãos, outro pequeno grupo, para dar assistência religiosa àqueles que nela viajavam e eram enviados ao Brasil para povoar a terra.
Pressentindo o perigo do ataque de piratas e com eles o martírio, antes de reembarcar na Ilha da Madeira, Inácio de Azevedo pediu voluntários da morte por Cristo, e não forçados. Alguns hesitaram e foram logo substituídos por candidatos das outras naus. Quando navegavam já a três léguas de La Palma, das Ilhas Canárias, dia 15 de Julho, surgiu uma frota de piratas huguenotes, comandados por Jacques Sore. Porque Inácio e seus companheiros eram religiosos, não podiam combater junto com os tripulantes, mas somente animar a defesa e cuidar dos feridos. A nau foi atacada e após breve luta dominada. Os huguenotes eram uma seita protestante calvinista, e vendo entre os tripulantes tantos missionários que iam evangelizar o Brasil, atacaram-nos, dizendo: "Mata, mata, porque vão semear doutrina falsa no Brasil" (LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, tomo II, p. 253).
Inácio foi ao encontro deles, com uma imagem de Nossa Senhora nas mãos, dizendo a alta voz: "Todos me sejam testemunhas como morro pela Fé católica e pela Santa Igreja Romana"( D. Maurício,sj. Beato Inácio de Azevedo e 39 companheiros, mártires, p.28). Ferido na cabeça e coberto de sangue, ele e a imagem que segurava, amparado pelos outros religiosos, que também professavam a própria fé, disse ainda: "Não choreis, filhos. Não chegaremos ao Brasil, mas fundaremos, hoje, um colégio no céu". Os huguenotes enfurecidos iniciaram então o massacre! Deram ao Pe. Inácio duas lançadas e tentaram tirar-lhe a imagem de Nossa Senhora, mas não o conseguiram em nenhum momento. Pe. Diogo de Andrade se abraçou então com ele, e ambos foram mortos a punhaladas e lançados ao mar. Comentando o ocorrido, Pe. Pero Dias escreveria um mês depois: "...não podiam mãos sacrílegas de hereges...tirar das mãos de tão forte capitão aquele tão forte escudo, com que andava mais unido, que com sua mesma alma, pois lhe tiraram a vida, não lhe arrancaram a imagem"( LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, tomo II, p. 595).
Somente um jesuíta não foi arremessado ao mar, Ir. Juan Sánches, pois fizeram dele o seu cozinheiro. Foi substituído por um sobrinho do capitão da nau, João, que desejava entrar para a Companhia de Jesus e se fez passar por jesuíta vestindo um hábito deles. Os huguenotes, pensando que ele era um dos religiosos, também o mataram. Completou-se assim o número de 40 mártires. Por isso é chamado de João "Adauto", que quer dizer "acrescentado". Com excepção de um, deixado para o dia seguinte, todos foram martirizados em 15 de Julho.
Manuel Rodrigues, irmão, estudante, nascido em Alcochete por volta de 1540, foi lançado vivo ao mar em 15 de Julho de 1570, ao largo das Ilhas Canárias. Martirizado com mais 39 sacerdotes, morreu com apenas 20 anos de idade e foi beatificado com os restantes a 11 de Maio de 1854 pelo Papa Pio IX.
In Página Causa dos Mártires do Brasil
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